Uma novidade no horizonte da valorização da diversidade de gênero: Eles por Elas (He for She) - Movimento de Solidariedade da ONU Mulheres pela Igualdade de Gênero
Reinaldo Bulgarelli, sócio-diretor
da Txai Consultoria e Educação
08 de março de 2016
A grande novidade dos últimos anos
na promoção da igualdade entre homens e mulheres é o movimento Eles por Elas, da
ONU Mulheres. Ele fala diretamente com os homens e busca abrir espaço para que
expressem também sua indignação contra o machismo. E nós homens temos algumas
tarefas nesta história.
Pensando em casais de homens e
mulheres, casamentos entre pessoas de sexo diferente, assim como na realidade
do trabalho, seguem aqui algumas poucas dicas só para ilustrar as
possibilidades de atuarmos pela igualde:
1. Deixar de
prejudicar as mulheres, de colocar o pé na frente para que tropecem. Isso
acontece quando não defendemos oportunidades iguais, quando não ligamos se
ganham menos do que nós só por serem mulheres. Colocar o pé na frente é colocar
barreiras para sua entrada em atividades que dizemos ser apenas para homens. É impedir
seu desenvolvimento na carreira porque defendemos com firme convicção que
apenas os homens nasceram para mandar. Tire o pé do caminho das mulheres!
2. Também
podemos nos educar, desenvolver a crença de que a igualdade é possível,
desejável, coisa básica para se promover em todos os lugares, incluindo o
mercado de trabalho, mas não apenas. Educar filhos e filhas para a igualdade é
tarefa difícil num mundo machista, mas não é impossível. Os homens têm um papel
importante na educação dos filhos e filhos para este mundo que precisa transcender
o azul e o rosa como uma prisão para meninos e meninas. Se lhe perguntarem se o
brinquedo que quer comprar é para menino ou menina, diga que é para brincar. Se
o sexo for importante na brincadeira, sinal de que não é apropriado para
crianças.
3. Vá para casa! Se as mulheres foram para o mercado de trabalho, é óbvio que os homens precisam ir para casa. Se as mulheres estão ganhando seu próprio dinheiro, não estão vivendo com mesada do marido ou se estão dividindo os ganhos, é importante que os homens dividam também as responsabilidades no campo da casa, da família, do cuidado com o bem-estar de todos. Não se esqueça de seus pais, sogros ou parentes idosos. Não é ajuda, é responsabilidade compartilhada. Não aprendeu a lavar roupa? Desenvolva-se, aprenda, faça curso, se for preciso, mas não use sua falta de competência como desculpa para sobrecarregar as mulheres.
4. Saiba ganhar o mesmo que a mulher, saiba ganhar menos, saiba reconhecer que a carreira dela é mais importante quando isso acontecer, saiba ficar desempregado e depender dela e sem que nada disso abale o casamento ou o amor entre vocês. Não destrua uma relação por conta de visões sobre o papel do homem como provedor. É uma visão que nada ajuda na vida do casal. Elas estão cada vez mais buscando parceiros e não provedores, já que foram para o mercado de trabalho. Saiba, enfim, ser parceiro, com tudo que isso significa.
5. No trabalho, saiba ser chefe, subordinado ou parceiro de uma mulher sem desqualifica-la por ser mulher, sem achar que está roubando o lugar de um homem e sem condescendências, portanto, como se estivesse fazendo um favor por não prejudica-las, já que não é machista. Avalie uma pessoa por seus erros e acertos, mas não os atribua ao sexo.
6. Não atrapalhar o desenvolvimento de uma mulher no trabalho não é um favor, é um dever. Apoiar o desenvolvimento da mulher no trabalho, não é um favor, é um dever. E é um dever no campo da ética. Não precisa justificar que isso melhora o desempenho da empresa e enriquece acionistas, apesar de ser verdade. O motivo é anterior, está relacionado ao que é essencial para a vida e não ao que é estratégico para a empresa. Se for apenas estratégico, e não essencial, pode ser periférico, não importante, retirado ou modificado, como tudo que é apenas estratégico ou um caminho para se alcançar bons resultados.
Nem é preciso dizer, mas é
importante que se diga um grande não à violência física contra as mulheres.
Também à violência psicológica, que está presente mais do que pensamos no
cotidiano de tantas mulheres. Mas, a violência física é a expressão cruel do machismo
que se caracteriza por este sentimento de posse do copo da mulher a ponto de
lhe impor castigos físicos. É um problema imenso no mundo todo, portanto, pode
estar presente em sua rua, em sua vida.
E nem é preciso lembrar também
que a ênfase aqui é dada aos homens, mas sendo o machismo o inimigo comum a
homens e mulheres, claro que há muitas mulheres que fazem esse jogo de opressão
e muitos homens que não o fazem.
Eles por Elas pode significar
mais do que um grupo de homens ajudando mulheres ao não atrapalhá-las ou ao
promover condições para seu desenvolvimento dentro deste mundo machista.
Pode e deve significar um grande
não ao machismo como algo estruturante na forma de vivermos em sociedade, na
forma de ser, de fazer as coisas, de pensar a vida e de se relacionar. É o enfrentamento
do machismo na prática e não no discurso, mas é importante romper com a ideia
de que nós, os homens, estamos dando uma mãozinha para as mulheres. Eles por
Elas é muito mais do que uma ajudinha de alguém que continuará usufruindo de
privilégios e que está disposto a discutir a relação, reconstruir as
estruturas, reinventar o mundo sobre outras bases que não o machismo.
Há homens e mulheres que vivem
aprisionados num modelo machista porque pensam que ele é “natural”, quando não
é nada natural ou do campo da natureza. Assim sempre foi e assim sempre será,
pensam os aprisionados, como se a natureza fosse algo que vivesse com leis
próprias longe da interferência humana. Há homens e mulheres que enxergam possibilidades
de ser, fazer e se relacionar de maneira diferente do que o machismo impõe. É
porque entendem que estamos lidando com algo no campo das relações sociais e
que podem ser modificadas, reinventadas, transformadas.
Há liberdade para além do sexo e
gente que consegue enfrentar o machismo a partir de sua condição de homem e de
sua condição de mulher, lugares diferentes nesse enfrentamento, mas que podem
compartilhar do mesmo objetivo. Apesar de ainda não termos no mundo nenhum país
que viva igualdade plena e total entre homens e mulheres, é possível sonhar com
esse lugar porque muita gente o está construindo.
*Conheça o movimento Eles por Elas (ONU Mulheres Brasil): http://www.onumulheres.org.br/elesporelas/