quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

Poderíamos viver sem cooperarmos uns com os outros?


Dia do voluntariado 2012 – Poderíamos viver sem cooperarmos uns com os outros?

Reinaldo Bulgarelli
05 de dezembro de 2012

Hoje, no mundo todo, é o dia bacana em que se comemora o voluntariado. A data é uma iniciativa da ONU, que reconhece a importância do voluntariado para um mundo melhor. O nome do mundo melhor hoje é desenvolvimento sustentável, uma agenda complexa que exige a participação das pessoas de muitas maneiras. É sustentável o desenvolvimento se for com a participação de todos e voltado a todos, portanto, respeitoso com a diversidade, inclusivo e promotor da cooperação.

Imagine nosso mundo humano sem cooperação. Existiria? A revista BBC Knowledge – Conhecer, de abril deste ano, trouxe matéria falando sobre nossa evolução. “Voltando ao tempo em 80 mil anos, éramos uma entre as cerca de cinco espécies de humanos vagando pela Terra. Há 50 mil anos, o Homo sapiens venceu todos os outros hominídeos para se tornar a única espécie humana sobrevivente. Mas, o que fez de nós os vencedores nessa batalha pela sobrevivência? Foi obra do acaso ou as nossas habilidades e atributos desempenharam um papel crucial nessa vitória?”

Eu prefiro uma das explicações que fala sobre cooperação. Saiu na revista Isto É, de 16 de maio deste ano também, uma fala do professor Edward Wilson, de Harvard, considerado o pai da sociobiologia e ganhador de dois prêmios Pulitzer. Ele publicou o livro “A Conquista Social da Terra” e a matéria na revista diz o seguinte: “O processo evolutivo é mais bem-sucedido em sociedades nas quais os indivíduos colaboram uns com os outros para um objetivo comum. Assim, grupos de pessoas, empresas e até países que agem pensando em benefício dos outros e de forma coletiva alcançam mais sucesso.”

Apesar de toda polêmica entre Wilson, Richard Dawkins e Georgy Koentges, entre outros, acho essa fala do professor Wilson mais generosa para explicar como chegamos até aqui. Nascemos da cooperação e para a cooperação. O voluntariado é uma das maneiras de cooperarmos, exercitarmos essa deliciosa capacidade de sermos solidários em situações das mais variadas, nem sempre tão fáceis ou prazerosas. O prazer está em se sentir bem fazendo algo bom para um mundo melhor.

Desde plantar uma flor na praça do bairro até contribuir para a promoção da paz em comunidades em conflito, doando um tempinho que sobra ou atuando como ativista todas as horas do seu dia, o voluntário comprometido com o mundo melhor faz a diferença e seu dia é para celebrar essa sua disposição de cooperar, ajudar, transformar realidades e afirmar sua crença na dignidade humana.

Ser voluntário, portanto, é estar conectado em algo maior mesmo quando agindo pontualmente. É essa conexão que dá força, transforma a realidade e a própria pessoa voluntária. O motivo que a levou a agir pode ser um, mas os motivos para permanecer são muitos.

Trabalhando com o mundo empresarial, escuto demais a palavra competição e muito pouco, em comparação, a palavra cooperação.  Fala-se de trabalho em equipe, mas parece mais uma exigência para melhorar a produtividade do que o reconhecimento de que há ali uma equipe de pessoas, que devem agir como tal na cooperação umas com as outras, sempre considerando a diversidade que caracteriza a todos como riqueza e não um problema.

Cooperação é tudo de bom para enfrentarmos os desafios da vida e para darmos conta, juntos, do sonho de tornar nosso mundo sustentável, mesmo porque não há outra saída. Ou seremos sustentáveis ou não seremos. Catastrófico? Não quero nunca passar essa ideia, mas precisamos ser muito sérios na leitura da realidade em que estamos inseridos e tudo indica que precisamos participar mais da vida comunitária, das decisões na vida privada e pública que nos levem para o futuro e não para o extermínio.

Hoje também foi divulgada a terceira edição da FASFIL (Fundações Privadas e Associações sem Fim Lucrativos), IBGE 2012, com dados de 2010. Ela mostra que houve uma queda no ritmo de crescimento destas organizações, mas um crescimento no número de pessoas ocupadas formalmente nelas, além do aumento da remuneração no setor. As organizações privadas e sem fins lucrativos estão mais fortes. O documento também demonstra como essas organizações, melhor do que todo o restante do mercado de trabalho, está sabendo atrair e acolher as mulheres. Elas encontram nestas organizações uma maneira de expressar sua consideração pelo todo, pelo bem comum, para além dos interesses privados.

Empresas que mobilizam seus profissionais para atuar na realidade em parceria com estas organizações, estão beneficiando muita gente e também se beneficiando. Um dos benefícios é que seus profissionais estarão em contato com organizações onde está concentrada a maioria das pessoas com nível superior de ensino. Sim, “é mais que o dobro o número de pessoas com nível superior na FASFIL do que no restante do mercado de trabalho”, diz Anna Peliano, Anna Peliano, técnica do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicadas(IPEA). Há uma riqueza produzida no encontro das pessoas das empresas com aquelas que se dedicam às organizações sem fins lucrativos, aprendizados que interessam a todos, incluindo as empresas.

O programa de voluntariado da ONU diz que “o voluntariado beneficia tanto a sociedade em geral como cada indivíduo através do reforço da solidariedade, da confiança e da reciprocidade entre os cidadãos, criando oportunidades de participação.” E ampliar a participação das pessoas é algo essencial para o nosso futuro. No Brasil, uma sociedade de baixa participação, precisamos de espaços educativos, como as ações voluntárias, para gerar esse aprendizado sobre como fazer a diferença no espaço do bem comum, fortalecer a vontade das pessoas em fazer parte das decisões e das ações que tornem a vida mais sustentável.

Na mensagem bonita enviada hoje para celebrar o dia do voluntariado, Ban Ki-moon, Secretário Geral da ONU, nos lembrou que “Fundado sobre os valores de solidariedade e de confiança recíproca, o voluntariado transcende todas as fronteiras culturais, linguísticas e geográficas. Ao dar o seu tempo e habilidades, sem expectativa de recompensa material, os próprios voluntários são encorajados por um sentido de propósito singular.”

Em 2009 ele havia dito algo parecido: “O trabalho voluntário é uma fonte de força comunitária, superação, solidariedade e coesão social. Ele pode trazer uma mudança social positiva, promovendo o respeito à diversidade, à igualdade e à participação de todos. Está entre os ativos mais importantes da sociedade.”

Já pensou uma sociedade que até tenha mais dinheiro no bolso, como a nossa, mas que não mobiliza, atrai e mantém as pessoas mobilizadas para cooperar umas com as outras na construção do presente e do futuro? Não há futuro sem participação, confiança e interação entre as pessoas. O voluntariado é um excelente espaço para exercitarmos essa vocação que temos para olharmos à nossa volta e encontrarmos oportunidades de melhorar algo.

Parabéns voluntários e voluntárias! Estamos escrevendo a história.