Anjo de costas, sem rosto, só asas. (foto: Reinaldo Bulgarelli) |
Diversidade humana e
a humanização da diversidade
Reinaldo Bulgarelli, 12 de maio de 2015A diversidade nas organizações empresariais enfrenta o desafio de se humanizar. Muitos dizem que não é importante falar de diferenças, muito menos das questões de gênero, raça, idade, orientação sexual, identidade de gênero ou deficiência, entre outras características, mas da diversidade cultural, de pensamento ou de ideias.
Defendo que a diversidade nos convida a olhar tudo junto e
ao mesmo tempo. Estamos falando da diversidade de características tidas como
visíveis, tanto quanto estamos falando da diversidade de histórias de vida,
experiências, sentimentos, pensamentos, crenças e perspectivas.
Os motivos para isso são muito simples. Ninguém, por
exemplo, é apenas mulher. É mulher e muito mais, numa complexa e rica variedade
de marcadores identitários que tornam cada pessoa única ou singular. E as
mulheres vivem numa dada realidade, um tempo e lugar que a valoriza ou a
desqualifica conforme o grau de machismo presente na sociedade.
A característica “ser mulher” traz implicações na rede de
relações sociais de acordo com o entendimento produzido pelo machismo sobre o
que significa ser homem ou ser mulher, quem pode mais, quem nasceu para isso e
para aquilo, quem é forte e quem é frágil. Uma característica tida como visível
pode produzir experiências das mais variadas numa pessoa do sexo feminino e no
seu entendimento sobre os papéis de gênero que a cercam desde o nascimento.
Uma das consequências do machismo é a produção de
desigualdades injustas entre homens e mulheres. São injustas porque estão num
nível intolerável e não estão baseadas no mérito, mas na característica. O que é
apenas uma característica, se transforma em motivo para desigualdades injustas
e, numa sofisticada teia de geração de falsas hierarquias sociais, essas
desigualdades podem ser naturalizadas. O que é do campo social, essa
desigualdade produzida na vida em sociedade, é justificada como se fosse do
campo da natureza, da biologia ou da genética.
Só por esses motivos já é possível insistir no convite da
diversidade para seja humanizada, ou seja, para que se considere a pessoa toda
nas suas circunstâncias, na rede de relações e nesta teia de ideologias da
discriminação (racismo, machismo...) na qual estamos imersos e da qual
precisamos nos libertar. Humanizar a diversidade parece redundante, mas não é o
que acontece quando nossos programas de valorização da diversidade pinçam um
marcador identitário, como ser mulher, separando-o da história de vida e de
todos os outros marcadores que contém, suas implicações e impactos.
No pensamento simplista, ou você é mulher ou é uma ideia, ou
é um corpo ou uma alma. Acolher a vida como ela é significa considerar um
marcador identitário como porta de entrada para toda a riqueza da diversidade
humana contida em cada pessoa, uma singularidade que se expressa de forma
dinâmica e complexa na teia de relações sociais.