Sustentabilidade, desenvolvimento humano e diversidade
Reinaldo Bulgarelli
Txai Consultoria e Educação
Esta semana foi cheia de atividades das mais variadas e para as quais eu preparo muito material. Gosto de PowerPoints! Nem todo material eu posso compartilhar porque são produzidos para clientes.
Outros, são para eventos abertos e adoro isso porque posso publicar minhas produções, descobertas, dúvidas, opiniões, desejos, pelo menos aquilo que foi parar no PowerPoint.
Por meio do SlideShare, compartilho aqui duas apresentações que realizei no mesmo dia, 18 de março (dia cheio de diversões!). Uma delas foi para o primeiro Clube Abraps do ano, logo cedo. A Abraps é a Associação Brasileira dos Profissionais da Sustentabilidade. Não apresentei os slides porque o formato é de um gostoso pape-papo no café da manhã, mas aqui estão as reflexões que fiz sobre o que há de novo no tema da valorização da diversidade em relação às práticas de sustentabilidade e responsabilidade social empresarial. Falo das novidades e também dos desafios para o ano de 2015.
Depois, à noite, estive na Universidade Metodista para atender a um convite muito especial do Curso de Direito: uma aula magna com o tema "A Condição do Vulnerável na Sociedade Contemporânea". Falei sobre desenvolvimento humano, o Relatório de Desenvolvimento Humano do PNUD que tratou do tema (2014) e, claro, como o tema sugere, falei de direitos humanos e valorização da diversidade.
Seguem aqui os links para o site do Slideshare.
http://pt.slideshare.net/reinaldotxai/sustentabilidade-e-diversidade
http://pt.slideshare.net/reinaldotxai/aula-metodista-reinaldo-bulgarelli-18mar15-ap
Este é um blog sobre valorização da diversidade que também reúne artigos, notícias, comentários e informações variadas sobre o tema e suas interfaces com sustentabilidade e responsabilidade social empresarial. Estou também reunindo aqui (quase) tudo que sai publicado com minha participação, como artigos, entrevistas, livros, notícias, facilitando que sejam encontrados em um só lugar. Boa leitura! Reinaldo Bulgarelli
sábado, 21 de março de 2015
domingo, 8 de março de 2015
A Operária Adriana e o Dia da Mulher na empresa dos homens
Meninos trabalhando |
A operária Adriana e o dia da mulher na empresa dos homens
Reinaldo Bulgarelli, Txai Consultoria e Educação08 de março de 2015
Adriana foi convidada para o evento do Dia da Mulher. Ficou
surpresa porque ela trabalhava na fábrica e essas celebrações eram na sede da
empresa. Ainda maravilhada com a novidade, perguntou ao seu colega José Antônio
se não iria participar. Ele disse que o evento era apenas para as mulheres,
conforme estava no convite. Ela leu novamente e não falava nada sobre isso, mas
ele retrucou mostrando o convite cor-de-rosa que só falava em mulheres. Na
porta do ônibus fretado distribuíam rosas vermelhas. Ela concordou com José
Antônio.
Lá chegando, mais mimos para as mulheres. Um fornecedor oferecia
creme depilatório. O cartão cor-de-rosa dizia algo sobre mulheres e as
barreiras que os pelos ofereciam à sua felicidade. Adriana logo lembrou-se de
José Antônio. Olhou à sua volta para constatar que havia apenas mulheres no
evento, tanto da sede como de todas as outras fábricas da empresa.
Sentadas no chique auditório, todo enfeitado com frases de
mulheres famosas, impressas em papel cor-de-rosa e ilustrados com flores, ouviram
o presidente da empresa fazer a abertura do evento:
- Estamos aqui para celebrar o que há de mais belo,
perfumado e encantador nesta empresa: as mulheres. A beleza de vocês torna
nosso dia melhor. Vocês são o enfeite desta empresa!
Ele se retirou em seguida dizendo que iria para uma importante
reunião com os executivos da empresa na qual decidiriam questões essenciais
para o futuro dos negócios. Adriana cochichou com sua colega:
- Pensei que estivéssemos trabalhando, mas somos só enfeite.
Até o evento é um enfeite porque o homem tem coisas mais importantes pra
fazer...
Depois, um grupo de mulheres, todas muito bem vestidas,
saltos altos, cheias de joias e cabelos impecáveis, subiu ao palco e uma a uma
foi se apresentando. A diretora de RH da empresa festejou o fato da empresa
possuir agora três por cento de mulheres depois de cinco anos de esforços. Haviam
criado um grupo de mulheres no ano passado e disse também da felicidade com
este primeiro evento da empresa no Brasil. Deixou escapar, contudo, que
lamentava não estar na reunião que o presidente agendou bem no horário do
evento. Ela era a única executiva no grupo de quinze homens. Adriana pensou que
a situação era igual à que vivia na fábrica. Era a única mulher em sua área. Havia
apenas trinta e seis mulheres operárias em um grupo de mil e duzentos operários.
Foi a vez de uma das advogadas do jurídico da empresa fazer
a apresentação sobre o grupo de mulheres. Ela explicou que o grupo pensava em
como aumentar o número de mulheres nos cargos executivos. Disse que haviam
criado outro grupo para pensar especificamente na questão da maternidade e
carreira.
Sobre este assunto, convidaram uma executiva de outra empresa
para contar como foi conciliar a carreira com o fato de ser mãe de um filho
que, aliás, estudou em Harvard e hoje é presidente de uma grande multinacional.
Ela disse que sem a babá que a acompanhou a vida toda não teria conseguido
subir na carreira.
Quando já estavam para encerrar o evento, depois de várias
falas sobre como era maravilhoso ser mulher e mãe, abriram para dois minutos de
perguntas da plateia.
Adriana levantou-se imediatamente e, quando viu, o microfone
já estava em sua mão.
- Eu queria agradecer pelo evento tão bonito que tivemos.
(aplausos) Mas, os homens não deveriam estar aqui para escutar tudo isso? (mais
aplausos). Meu marido, por exemplo, até me ajuda em casa, mas eu não gostaria que
ele me ajudasse e sim que dividisse comigo as tarefas. Lá em casa, ele é o enfeite
quando se trata de lavar louça e aqui na empresa eu descobri hoje que eu sou o
enfeite. (silêncio total)
Alguém da organização do evento grudou ao lado de Adriana e
segurou o microfone para ela lembrando que deveria ser breve.
- Vou ser breve, mas queria dizer que vocês bem que poderiam
pensar também nas mulheres da fábrica. Olha esse uniforme! Um calor terrível e
o uniforme é o mesmo em todas as cidades do norte ao sul do país. E esse modelo?
Quem desenhou era homem e só pensou nos homens. Tudo bem que eles são maioria,
mas é para continuar sendo assim que bolam essas coisas? Queria dizer também
que acho lindo vocês pensarem numa sala de manicure aqui na sede, mas na minha
fábrica não tem banheiro para mulheres. Nós andamos muito para ir até a área
administrativa e o meu chefe sempre faz piadinhas sobre como mulheres são menos
produtivas. Mais uma coisa para eu me sentir culpada na vida. Lá em casa eu me
sinto culpada por não dar conta das crianças e da casa – e olha que eu não
tenho empregada doméstica, como vocês! Lá o problema é que meu marido não
divide as tarefas de casa comigo e aqui o problema é que não pensaram e
continuam não pensando nas mulheres que trabalham na empresa. Muito boas as dicas
que vocês deram sobre como lidar com a culpa, mas eu queria muito aprender
sobre como gerar culpa nos homens. Ninguém pergunta para eles sobre como é
conciliar a carreira com a paternidade. Adorei essas dicas sobre como ser mais
assertiva, objetiva e só chorar escondida no fundo do banheiro. O banheiro é
tão longe que nem sei se conseguiria segurar o choro quando gritam comigo, mas
e as dicas para os homens serem mais respeitosos com todos?
Desligaram o microfone para encerrar o evento, mas as
mulheres da plateia estavam gostando e pediram para a Adriana continuar.
- Como a empresa vai
aumentar o número de mulheres em cargos de liderança aqui na sede se há tão
poucas mulheres nas fábricas? Sei que não temos plano de carreira na fábrica,
mas os problemas são comuns porque tudo foi pensado por homens e para homens.
Não seria o caso de pensar a empresa toda quando falamos de mulheres? Vocês têm
uma empregada doméstica, que deve ser negra, como eu, para ajudar nas
atividades da casa. Nós, operárias, não temos empregadas, mas nossas mães ou
até nossos próprios filhos cuidando da casa enquanto trabalhamos. Não é para
pensar em todas as mulheres e seus desafios? Para nós também seria ótimo termos
seis meses de licença maternidade, tanto quanto seria para vocês aqui na sede.
Será que a empresa vai ter um prejuízo imenso por ter mulheres ou por não ter
mulheres? E tudo gira só em torno da maternidade?
Alguém se levantou no palco para agradecer e cortar, mas
Adriana retomou o microfone.
- Eu quero fazer parte deste grupo e ele não deveria pensar
apenas em carreira, mas em como, em tudo, aqui poderia ser um bom lugar para homens
e mulheres trabalharem. Isso de subir na carreira eu penso que é consequência da
empresa ser mais aberta para homens e mulheres, a nossas questões específicas e
os benefícios que traz para todos. Ou não tem benefícios? Também vejo o jeito
dos homens lidarem com as máquinas e detesto quando me elogiam por ser mais
delicada. Delicadas são as máquinas de hoje e esse elogio é uma ofensa para os
homens. Até quando eles vão repetir que são maioria porque o trabalho exige
força, como se fossem apenas músculos sem cérebro e sentimento? Nós, que somos
mães, queremos embrutecer nossos meninos para sobreviverem neste mundo?
Na saída do evento, Adriana foi cumprimentada por muitas
mulheres e a diretora de RH a convidou para fazer parte do grupo. Outras
mulheres torceram o nariz. Uma colega chegou a dizer que ela era feminista e
que não sabia seu lugar. Todas ganharam um bombom com um lindo laço cor-de-rosa
e uma propaganda de outro fornecedor. O cartãozinho rosa dizia que a família
era a coisa mais importante do mundo e que a mulher era o centro do universo.
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