sábado, 28 de maio de 2011

O kit contra a homofobia e a educação

O kit homofobia e a educação

por Reinaldo Bulgarelli, 15 de janeiro de 2011 (para Portal Guia do ABC)

Uma pesquisa divulgada em 2009 me chamou a atenção e venho considerando seus resultados no meu trabalho. A matéria, na Revista Nova Escola, da Editora Abril (http://revistaescola.abril.com.br/avulsas/225-emdia.shtml), dizia o seguinte:
Diversidade não é um tema bem-vindo entre alunos, pais, professores e diretores. Esse é um dos apontamentos do Estudo sobre Ações Discriminatórias no Âmbito Escolar, realizado no primeiro semestre de 2009 pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe), em convênio com o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep). Idade, etnia, orientação sexual e de local de origem, entre outras características, incomodam a maior parte do público analisado em 500 escolas públicas de todo o país (veja o gráfico à esquerda). Além de a abrangência da intolerância assustar, é preocupante encontrar as necessidades especiais como o principal alvo de repulsa, ainda mais com a crescente inclusão de alunos com algum tipo de deficiência nas escolas regulares. Nessa categoria, o índice geral de preconceito é de 96,5% e alcança 96,8% dos alunos e 87,4% dos docentes.”
A pesquisa mostra que 87,3% têm preconceitos contra homossexuais: “A distância em relação a pessoas homossexuais foi a que apresentou o maior valor para o índice percentual de distância social, com 72%, seguido da distância em relação a pessoas portadoras de deficiência mental (70,9%), ciganos (70,4%), portadores de deficiência física (61,8%), índios (61,6%), moradores da periferia e/ou de favelas (61,4%), pessoas pobres (60,8%), moradores e/ou trabalhadores de áreas rurais (56,4%) e negros (55%). Mais preocupante é o fato que o preconceito e a discriminação muitas vezes resultam em situações em que pessoas são humilhadas, agredidas ou acusadas injustamente simplesmente pelo fato de fazerem parte de algum grupo social específico. Nota-se que estas práticas discriminatórias no ambiente escolar tem como principais vítimas os alunos, especialmente negros, pobres e homossexuais, com médias de 19%, 18% e 17% respectivamente para o índice percentual de conhecimento de situações de bullying nas escolas entre os diversos públicos pesquisados.”

A escola tem alguma responsabilidade sobre essa realidade? É um espaço onde podemos aprender a conviver na diversidade que nos caracteriza a todos? Essas questões levam também à pergunta sobre onde o preconceito e a discriminação começam e onde eles terminam? Seria ótimo identificar um lugar e definir responsabilidades pontuais, mas a verdade é que estamos mergulhados numa cultura que alimenta preconceitos contra alguns de nós. É um circulo vicioso e precisa ser enfrentado por todos em todos os lugares. O que estamos combatendo e o que queremos?
Preconceito é uma ideia preconcebida sobre alguma coisa. Pode ser positivo ou negativo, mas é sempre algo ruim porque nos afasta de conhecer e até de conviver com outras pessoas e realidades. Se pudéssemos fazer uma divisão didática, o preconceito é um pensamento enquanto a discriminação é um ato. A pesquisa mostra como os preconceitos resultam em humilhações, agressões e acusações injustas, ou seja, em práticas de discriminação. Eles não ficam na cabeça e acabam determinando a maneira de agir. É possível educar as pessoas por meio de diálogos, informações, acesso a conhecimento para que tomem uma atitude e modifiquem sua postura preconceituosa, mas é impossível dizer que podemos erradicar o preconceito. Já a discriminação nós podemos dizer que queremos erradicar por meio de normas claras e punição a quem as pratica.

O kit contra a homofobia é uma das respostas pensadas para enfrentar o que mostrou a pesquisa em relação aos homossexuais. Ele pode contribuir no campo da educação de alunos, professores ou familiares. Ele é bom, bem feito, mal feito? Parece que alguns críticos não estão interessados na discussão sobre a qualidade do material, mas em defender que ele não exista porque a homossexualidade não deveria existir. Bom, aí não há discussão no campo democrático porque estas pessoas alimentam a violência contra homossexuais, vivenciada de diferentes maneiras, desde a negação de sua identidade até o assassinato ou extermínio.
Não é fácil viver num país democrático, mas alguém que defenda o extermínio do outro por ser diferente do que acredita ser o único padrão a ser respeitado, precisa encontrar limites. É a intolerância contra a tolerância, como falamos no primeiro artigo (Diversidades) sobre os limites e a importância da Declaração Universal dos Direitos Humanos. Tirando os excessos e radicalismos não democráticos e que atentam contra a Constituição e os direitos humanos, que bom que temos um material para ser discutido na sociedade sobre como iremos nos educar para conviver com a diversidade sexual.

Tem horas que a informação pode fazer a diferença sobre o nível de respeito que um segmento tem na sociedade. Neste caso, falar do tema orientação sexual, tirá-lo da invisibilidade e propor reflexão na sala de aula e fora dela pode ser um ótimo caminho para que os homossexuais sejam mais respeitados do que são hoje. E você, como tem se educado neste tema? Como está educando seus filhos? Eles serão aqueles que aparecem no noticiário policial por espancar ou assassinar homossexuais ou são aqueles que respeitam e trabalham para que todos sejam respeitados?

Site Portal Guia do ABC: http://www.portalguiaabc.com.br/category/diversidade-gls
Site IG: Unesco dá parecer favorável a material contra homofobia: http://ultimosegundo.ig.com.br/educacao/unesco+da+parecer+favoravel+a+material+contra+homofobia/n1238103119025.html

quarta-feira, 25 de maio de 2011

Artigo de Miriam Leitão sobre falecimento de Abdias do Nascimento

O Globo - Enviado por Míriam Leitão - 24.05.2011 - 16h08m

Homenagem

Uma vez, numa entrevista que me concedeu, Abdias Nascimento disse que ele foi preso, enquadrado na Lei de Segurança Nacional, viveu no exílio por 10 anos, sem ter nunca integrado qualquer partido clandestino de combate à ditadura.
- Tudo o que eu fiz foi combater o racismo.
Era uma forma de mostrar que esse tema sempre foi tratado como inconveniente. Na ditadura, era proibido. Isso era subversivo o suficiente para os ditadores da época. Hoje ainda é delicado e difícil. Sua vida foi dedicada a tratar desse assunto intratável.
Como jornalista, teatrólogo, escritor, cineasta, artista plástico, senador, militou na mesma causa: construir um país realmente multiracial com a derrubada, de fato, de todas as barreiras que impedem a ascensão dos negros no Brasil.
Não um país que finge não ver as diferenças para proclamar a igualdade, mas o que constrói as pontes fortalecendo a autoestima dos pretos e pardos brasileiros e abrindo oportunidades. Foi por esse Brasil que Abdias lutou.
Abdias abriu espaços notáveis na cultura brasileira para essa sociedade com a qual sonhou por tanto tempo. Quilombo era um jornal dos anos 1950 que abriu a discussão do combate ao racismo. O Teatro do Negro foi outra iniciativa pioneira que revelou inúmeros talentos para a dramaturgia brasileira, numa época em que atores brancos pintavam o rosto de preto para fazer os papéis de negros. Na militância foi um dos fundadores do Movimento Negro Unificado.
As conversas com ele e sua mulher Elisa Larkin, americana de nascimento, eram sempre ricas de reflexões sobre velhos vícios do Brasil, como o de negar o problema.
Nos últimos anos ele viu duas notícias. A boa é que é visível a formação da classe média negra e do aumento do poder de pretos e pardos no Brasil. A ruim é que as distâncias permanecem enormes e uma parte do país prefere não discutir o tema, insiste em ficar em atalhos que fogem da questão central. A desigualdade racial ainda é enorme no Brasil.
Outro dia fui ao Sindicato dos Jornalistas do Rio no lançamento do Prêmio Abdias Nascimento. Sindicato ao qual ele se filiou em 1947.
Ele já estava doente, mas a cerimônia aconteceu ainda assim. Lá eu disse que Abdias, que tinha 97 anos, foi precursor e persistente no mesmo sonho ao longo da vida inteira: a de combater o racismo em todas as suas formas.
Fará falta Abdias, mas quem sonha com um Brasil de menos desigualdades, sabe que ele combateu o bom combate.
http://oglobo.globo.com/economia/miriam/posts/2011/05/24/abdias-nascimento-uma-vida-inteira-de-combate-ao-racismo-382348.asp

terça-feira, 24 de maio de 2011

Abdias do Nascimento faleceu hoje, 24 de maio de 2011

Abdias do Nascimento
Por Reinaldo Bulgarelli, 24 de maio de 2011

Eu era um adolescente de 16 anos em 1978 quando ajudei meu amigo Renato Wagner Oliveira Nascimento a fundar o grupo de jovens da Igreja Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos de São Paulo. Foi inevitável que passássemos a pensar a questão do negro e das relações raciais, mesmo porque a cidade, o país o mundo estava discutindo a questão racial. Na TV, o seriado Raízes levantava a questão e a moral dos negros. O black power não era apenas um penteado, mas uma maneira de ser e olhar o mundo.

Eu e Renato íamos a manifestações do movimento negro nas ruas do centro de São Paulo. Algumas, como o treze de maio, aconteciam na própria Igreja do Rosário, com a imagem da Mãe Preta no Largo do Paissandú servindo de referência para os protestos contra a data.

Meu grande encontro com a questão, do ponto de vista intelectual, foi na escadaria do Teatro Municipal. Lá Abdias do Nascimento discursava numa manifestação do Movimento Negro Unificado, que surgia exatamente neste mesmo 1978. O que ele dizia fazia sentido a tudo que eu mesmo experimentava como branco e como branco na convivência com amigos negros. Não era uma questão apenas de entender, mas de sentir. Não era uma questão de concordar com tudo, mas de ver alguém com a alma exposta naquilo que dizia e fazia e gesticulava. E como gesticulava o Abdias.

Abdias virou minha referência. Depois veio o União e Consciência Negra e outros espaços para pensar a questão das relações raciais. Tudo isso me moldou, fez pensar o que era ser branco numa sociedade racista, qual era o meu papel, o que poderia e deveria fazer e assim tem sido, em constante reflexão sobre isso.

Gostatamos tanto de citar Mandela, com toda razão, mas Abdias era nosso Mandela, com denúncias contundentes e anúncios de um futuro sonhado que servem de horizonte para muitos. Uma vida tão longa, 97 anos, não foi suficiente para ver todos esses sonhos realizados, mas não foi em vão. Ele é exemplo de alguém que soube viver seu tempo e lugar. Isso nunca é em vão. 

Não se mede uma vida apenas pelos resultados das lutas que a pessoa travou, mas pelos sonhos que nos fez sonhar. As pessoas vão embora, mas os sonhos ficam para conduzir gerações. Neste caso, o sonho de um país racialmente justo, sem discriminação, onde a diversidade possa ser mais do que uma característica, mas a nossa maior força.

Descanse em paz nosso guerreiro Abdias e um imenso agradecimento do jovem que te viu bradar nas escadarias do Teatro Municipal para nunca mais te esquecer.

Postei um vídeo com Abdias no meu canal no Youtube. É do Programa Espelhos, com Lázaro Ramos: http://www.youtube.com/user/ReiBulga?feature=mhee

Mensagem da Diretora-Geral da UNESCO: Dia Mundial da Diversidade Cultural 2011

Mensagem de Irina Bokova, Diretora-Geral da UNESCO, por ocasião do Dia Mundial da Diversidade Cultural para o Diálogo e o Desenvolvimento – 21 de maio de 2011




Mensagem da Diretora-Geral da UNESCO para o Dia Mundial da Diversidade Cultural – 21 de maio de 2011

20 de maio de 2011
Há dez anos, a comunidade internacional se reuniu para destacar a importância do diálogo entre as culturas e seu compromisso com a diversidade, adotando unanimemente a Declaração Universal sobre a Diversidade Cultural da UNESCO.
Com esta declaração histórica, os Estados do mundo reconheceram a diversidade cultural como um patrimônio comum da humanidade.
Todas as culturas e civilizações contribuem com o enriquecimento da espécie humana. A diversidade cultural é um ponto forte. Sua defesa é um imperativo ético, inseparável do respeito pela dignidade humana. O reconhecimento desta diversidade pode acelerar o entendimento mútuo e criar um espaço comum ao redor de valores compartilhados. Ninguém pode invocar a diversidade cultural para violar os direitos humanos, ou limitar seu escopo.
O entendimento da diversidade cultural é um aliado na busca pelo desenvolvimento. Várias décadas de programas internacionais mostraram que não há um modelo único de desenvolvimento que seja aplicável a todos os países e a todas as culturas. O reconhecimento da diversidade cultural é a única coisa que pode nos ajudar a implementar programas apropriados.
Há mais de 20 anos a UNESCO busca promover a importância da diversidade cultural, elaborando políticas internacionais de desenvolvimento que sejam mais efetivas e sustentáveis. A onda de democracia que surge no mundo árabe em 2011 é uma prova da universalidade do desejo de liberdade e dignidade. Ela confirma a relevância da Declaração de 2001 e a necessidade de assegurar que seus princípios sejam postos em prática.
A adoção da Convenção da UNESCO para Salvaguarda do Patrimônio Cultural Imaterial (2003) e da Convenção da UNESCO sobre a Proteção e a Promoção das Expressões de Diversidade Cultural (2005) foi um grande passo para o reconhecimento desta diversidade. A resolução das Nações Unidas sobre cultura e desenvolvimento, adotada pela Assembleia Geral das Nações Unidas em 20 de dezembro de 2010, é outro passo revolucionário que enfatiza a contribuição da cultura e da diversidade cultural com o desenvolvimento sustentável e com a realização das Metas de Desenvolvimento do Milênio.
Este progresso reflete uma tendência positiva. Esta nova consciência deve se materializar em ação para apoiar os grupos populacionais e o diálogo cultural. É necessário entender esta diversidade se quisermos fortalecer a cooperação entre os Estados, enfrentar juntos desafios comuns e aprender a conviver em sociedades modernas e, geralmente, heterogêneas. Assim, apelo aos governos, às ONGs e à sociedade civil para que contribuam com a melhoria de nossas habilidades interculturais por meio da arte, do esporte, do aprendizado de ciências humanas e idiomas, e para que melhorem nossa diversidade, para o benefício de todos.
Retirado do site da ONU Brasil: http://unicrio.org.br/mensagem-da-diretora-geral-da-unesco-para-o-dia-mundial-da-diversidade-cultural-%e2%80%93-21-de-maio-de-2011/

quarta-feira, 18 de maio de 2011

Prefeitura do Rio de Janeiro lança campanha contra a homofobia


Falar é muito bom e fazer é melhor ainda. Que o exemplo do governo do Rio de Janeiro, Prefeitura e Estado, possa ser seguido por muitas organizações. Ontem foi o dia mundial contra a homofobia e este gesto é mais que simbólico para nos ajudar, como sociedade, a conviver com a diversidade e respeitar os direitos de todos.

Do site da UOL - 18/05/2011 - 12h26                                

"No Rio, Paes lança conjunto de ações contra homofobia


Rio - A exemplo do que fez na segunda-feira o governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral (PMDB), o prefeito da capital fluminense, Eduardo Paes (PMDB), assinou hoje um decreto que garante a travestis e homossexuais a opção de serem chamados pelo nome masculino ou feminino de sua preferência, independentemente da informação que consta no documento de identidade. O direito vale para servidores e usuários dos serviços da prefeitura do Rio, como escolas e postos de saúde.

Segundo o vice-presidente do Grupo Arco-Íris, Alejandro Pobes, o decreto é uma conquista, mas ainda há muito para ser alcançado. Nas escolas, segundo ele, ainda são corriqueiros os casos de bullying contra homossexuais, e o preconceito existe inclusive entre os professores. "Precisamos criminalizar a homofobia", disse.

A coordenadoria especial da diversidade social do município do Rio informou que formará em até 30 dias uma frente de trabalho para coibir os casos de bullying na administração municipal. Serão oferecidos cursos para funcionários em estabelecimentos comerciais, como hotéis e restaurantes, a fim de orientá-los a respeito das leis que asseguram os direitos de homossexuais."

No site de A Capa está o vídeo da campanha: http://acapa.virgula.uol.com.br/politica/veja-o-video-da-campanha-rio-sem-homofobia/2/14/13577

terça-feira, 10 de maio de 2011

Instituto Amanhã - Ambientes Inclusivos - Entrevista com Reinaldo Bulgarelli e cases empresariais

O caderno 5 do Instituto Amanhã - Núcleo de Projetos Especiais da Revista AMANHÃ, com reportagem e textos de Paulo Cesar Teixeira, já está disponível no link abaixo.

Este caderno tratou do tema "ambiente inclusivo" e o título do caderno é "Estímulo à Diferença". Como sempre me pedem casos empresariais, há três clientes meus na matéria - John Deere, Walmart e DuPont. Há também outros cases muito interessantes.

Vale a pena conhecer também os demais cadernos. Uma contribuição do Instituto Amanhã que deve ser valorizada. Divulgue!

Apresentação do projeto: "Nos últimos anos, o problema da exclusão social passou a ser encarado de uma forma mais definitiva. Projetos liderados por empresas, além de programas oficiais de governo (como o Bolsa-família e o Bolsa-escola) e iniciativas de organizações não-governamentais, estão garantindo a inclusão de uma parcela da população que, até então, ficava à margem. A nova série de cartilhas da Revista e do Instituto AMANHÃ mostra o que vem sendo feito para promover a inclusão social – por meio da educação, de políticas de distribuição de renda, de projetos de empresas e do Terceiro Setor. E também o que ainda precisa ser enfrentado para permitir que populações e grupos hoje excluídos passem a conviver com o resto da sociedade e a desfrutar de bens e serviços básicos.


Outra missão desse projeto foi esclarecer definitivamente o conceito de inclusão social, que algumas vezes é associado apenas à pobreza. O tema será tratado da forma mais ampla possível: vai abordar, sim, a miséria, mas também as dificuldades de grupos como os deficientes físicos, os idosos, e todos aqueles que sofrem com o preconceito racial, entre outros."

Boa leitura.

Link para o Caderno 5: Ambientes Inclusivos

segunda-feira, 9 de maio de 2011

Voluntários da Fundação Bunge - Uma homenagem a quem trabalha pela vida

Voluntários - Uma homenagem a quem trabalha pela vida

por Reinaldo Bulgarelli, 09 de maio de 2011

Dia 09 de abril eu fui ao Embú palestrar para os voluntários da Bunge, animados na ação e no 5o Encontro Nacional pela Fundação da empresa. Fui falar de voluntariado e diversidade.

Naquela semana havia acontecido a tragédia na escola do Rio de Janeiro. Um criminoso jovem, evidentemente perturbado, invadiu a Escola Municipal Tasso da Silveira, em Realengo, no Rio de Janeiro, matando 12 crianças, ferindo 10 e deixando todo o país em luto.

Estava pensando no que dizer naquele momento para voluntários, funcionários da empresa que trabalham em escolas e que estavam especialmente chocados com essa violência. Na hora me veio a ideia de homenageá-los pedindo, ao invés de um minuto de silêncio, um minuto de palmas para os voluntários. Eles entram na escola não para tirar vidas, mas para levar vida.

Por meio destes maravilhosos voluntários, faço aqui a homenagem a todos os voluntários que atuam nas escolas por este país a fora. Enquanto um sujeito causa tanta dor, há estas pessoas, milhares e milhares delas, que "invadem" as escolas durante todo o ano para fazer algo de bom pelas crianças, suas famílias, pelas escolas, pela educação e por nosso país.

Eu estava com o coração apertado naqueles dias. Quem não estava? A gente trabalha exatamente contra essa violência, promovendo a paz, tolerância, entendimento. Mas estar com centenas de voluntários da Bunge e o pessoal da Fundação Bunge me fez sair de lá com a certeza que há muito mais gente fazendo coisas boas. É gente que faz coisas tão importantes e que pode não ganhar as manchetes de todos os noticiários no mesmo instante em que praticam uma boa ação. Mas, estão lá brilhando num cotidiano de solidariedade, tecendo as redes de um país que já é diferente e melhor só pelo fato deles existirem e fazerem o que fazem na comunidade.

Aproveito para postar aqui, além do vídeo com os melhores momentos do evento, o link para o Projeto Escola Brasil, mantido pelo Banco Santander. Lá também se estimula e se oferece apoio para que centenas de funcionários atuem como voluntários nas escolas deste país. Fiz, com Roberta Rossi, um material para os voluntários atuarem com diverisdade na escola. Eles editaram e está no site neste link: http://www.santander.com.br/document/wps/escola_de_todos.pdf

Voluntários, cheios de sonhos e que transformam em presente o que imagiram para o futuro, fica aqui minha homenagem a todos vocês.

Link para vídeo com melhores momentos do 5o Encontro Nacional de Voluntários - Fundação Bunge: Fundação Bunge - Interatividade - Vídeos - 5º Encontro Nacional de Voluntários - Melhores Momentos

domingo, 8 de maio de 2011

Dia das mães - Escolhas que precisam ser valorizadas

Dia das mães - Escolhas que precisam ser valorizadas


Reinaldo Bulgarelli, 08 de maio de 2011

Eu gosto de lembrar a minha própria vida para tratar de alguns temas. E tenho o privilégio de ter “memória de berço”. Lembro-me de passagens interessantes da infância. Nem sei o que eu estava fazendo ontem, mas certas coisas de décadas atrás eu lembro com nitidez. E neste dia das mães, porque não se lembrar da própria mãe para homenagear as mães?

Uma das histórias é sobre a minha escola e aconteceu em 1967, quando eu tinha de cinco para seis anos. Por um erro na matrícula, fui parar no primeiro ano ao invés de ir para o pré-primário. Assim chamavam. Meu pai ficou tão feliz que nem permitiu que o erro fosse sanado. Imagino que ele considerou aquilo como um vestibular ou um prêmio pela minha maravilhosa inteligência, mas foi só um erro de matrícula que me custou fazer o primeiro ano novamente. O diretor recobrou o juízo repentinamente, bem na hora de eu seguir adiante com a minha turma e, apesar das notas, repeti.

Neste primeiro ano, minha professora, por quem eu deveria ter devoção inconteste, dizia que era um erro usar a mão esquerda para escrever. Era uma imoralidade que precisava ser corrigida com castigos. Amarrou a minha mão esquerda e obrigou-me a escrever com a direita. Ela me humilhou na frente dos colegas. Justamente na frente daqueles sujeitos mais velhos que eu estava matutando um jeito para me enturmar. Quando se tem cinco anos, faz muita diferença conviver com quem tem sete.

Essa tortura durou apenas dois dias. No primeiro dia eu não disse nada em casa. Aprendi, logo de cara, que a escola era outro mundo. Todos os rituais eram assustadores e ao mesmo tempo despertavam minha curiosidade. Onde será que aquilo ia dar? Tinha que usar uniforme, levar lancheira, entrar e sair em bandos, fazer fila, fingir que cantava o hino nacional diante da bandeira brasileira, ficar em fileiras de carteiras sem poder conversar com os outros, sem ir ao banheiro (mesmo com vontade) e jamais, nunca, sob qualquer hipótese, usar a mão esquerda para escrever no meu lindo caderno novo.

Não vi diferença entre um horror e outro. Imaginei que todas as crianças eram despejadas naquele local para esse tipo de tortura. Meu pai encheu os olhos d’água quando me entregou à multidão de crianças que subiam a escadaria do Marina Cintra. Imaginei que bom lugar não seria. Era obrigatório, eu logo entendi, porque todas as crianças iam para lá e porque não encontrei brechas para negociar nada, do uniforme, bota ortopédica ao sabor do pacotinho de Lanches Mirabel.

No segundo dia, contudo, eu achei que havia algo de estranho. Eu era o único canhoto da sala e minha exposição pública atingia um nível insuportável. Desconfiei que aquela monstra tivesse saído de algum lugar do inferno porque ela o conhecia bem. Dizia que eu era filho do diabo e iria morar no inferno se continuasse escrevendo com a mão esquerda. Descrevia tudo com tantos detalhes que só poderia ser minha irmã.

Como meu pai - meu herói! - não era o diabo e jamais havia feito qualquer comentário desabonador sobre minha mão esquerda, resolvi arriscar e contar um segredo sobre a vida paralela: a escola. Meu pai ficou indignado e, como sempre, esbravejou muito, disse que a professora era ignorante, que a escola pública já tinha sido melhor. Minha mãe ficou mais calada.

Dias antes, comprando plástico para encapar os cadernos e a cartilha Caminho Suave, ela havia me dito que nunca tinha ido à escola. Mais um motivo para eu desconfiar daquele lugar, mas ela disse aquilo sentida, mostrando que a vida na roça e o fato de ser mulher não permitiam esse privilégio. Eu não sabia ainda o que era ser alfabetizado, portanto, não sabia o que era ser analfabeto. Assim era minha mãe.

Fez poucos comentários para concordar com meu esbravejante pai. Talvez estivesse tão perplexa como eu sobre esse mundo estranho que nós dois não conhecíamos. Dia seguinte, ainda muito calada, levou-me na escola e pediu para falar com a professora. Não me deixou entrar na sala com os outros, segurou-me firme e logo na porta começou uma discussão com a professora. Eu fui arregalando os olhos, admirado pela defesa incondicional da minha atuante mão esquerda. Não sabia se continuava olhando para a cara amedrontada da professora ou se, com o olhar, eu fizesse com que todos os colegas prestassem atenção naquilo. Meu olhar dizia tudo: Viram? É minha mãe. Aí de quem mexer comigo!

Uma mulher analfabeta conseguiu inibir os ímpetos da professora de me queimar vivo na fogueira da inquisição. Proibiu que ela fizesse qualquer comentário ou gesto para me impedir de ser canhoto. Não me lembro das “delicadezas” que ela disse para a professora, mas me senti tão protegido e tão orgulhoso que nunca mais me esqueci. Ser canhoto era uma condição e não uma escolha. Eu podia forçar e ser destro, mas minha mãe não deixou que a torturadora me transformasse em alguém diferente. Eu era canhoto e ponto final. Eu entendi que qualquer injustiça que eu viesse a sofrer, poderia contar com a minha mãe. Entendi que injustiça não era com ela.

Mais tarde, quando eu estava na quinta série do ginásio, passei a alfabetizar minha mãe. Ela se animou tanto que seguiu estudando no Mobral e depois num supletivo, a ponto de escrever seu caderno de receitas culinárias e mostrar para todos com orgulho. Fazia tricô e crochê, como sempre fez, mas agora tinha revistas para tirar os pontos que queria.

Conto primeiro esta passagem para falar de outra que aconteceu um pouco antes, quando eu tinha quatro anos. Eu quis levantar para ir ao banheiro, mas não consegui. Minhas pernas não se mexiam. Acordei meus pais, que dormiam ao lado. Era o único quarto naquele apartamento do zelador, um porão cujas janelas davam para o jardim do Edifício Itambé, bem diante do Mackenzie. Vi o pavor deles, mas lembro que fiquei tranquilo, confiante, mesmo porque não doía nada. Apenas não conseguia esticar as pernas encolhidas, duras, sem o menor sinal de que eram minhas.

Um morador do prédio logo apareceu com um fusquinha vermelho para nos levar à Santa Casa. Era de madrugada. Lá eu fui torturado por médicos que ficavam à minha volta enquanto um batia com um martelinho horrível no meu joelho. Nada dele responder com um chute na cara daqueles tiranos. Eu mostrei, para dissuadi-los da tortura, como meu dedão direito se mexia como Vicente Celestino e como o esquerdo parecia com o nascente Iê-iê-iê. Voltei para casa e fiquei ainda uns cinco dias sem mexer as pernas.

Continuei confiando nos meus pais. Eles dariam um jeito. Vi na cara deles um olhar de pena que jamais esqueci. Eles me olhavam com tanto dó e com profundos suspiros que venci a vergonha e pedi de volta a chupeta. Ela tinha sido jogada no lixo em repetidos rituais até que uns meses antes funcionou. Livrei-me, para alegria dos meus pais, da amada chupeta.

Passei a dormir na cama com minha mãe. Meu pai foi para o meu lugar. Durante o dia, imóvel da cintura para baixo, ficava na cama de casal imensa e recebendo um carinho extra e exclusivo. Melhor de tudo eram as visitas. O povo do prédio, da vizinhança, os parentes e os meus amiguinhos todos vinham em romaria. Eu escondia a chupeta, claro. Estar doente era uma festa e eu até recebia presentes.

Não sabia quando e se voltaria a andar, mas a pólio brigou com a vacina durante aqueles dias e perdeu, sem deixar sequelas. Também à noite eu tive aquela estranha vontade de ir ao banheiro e fui. Só me dei conta de que estava andando quando já tinha saído da cama. Perdi a chupeta e as visitas e os presentes. Não consigo ter lembrança ruim daqueles dias em que a paralisia infantil me rondou.

Lembro-me daquele olhar piedoso dos meus pais e da atenção que eu bem soube aproveitar. Lembro-me também que estavam lá pra tudo, incluindo a busca por uma cadeira de rodas. Para mim, qualquer coisa com rodas era uma diversão. Para meus pais, não tinha diversão alguma, mas lá estavam. E minha mãe contou essa história muitas vezes pela vida a fora. Disse que chorava, mas eu não vi. Disse que moveu o mundo atrás de solução com os médicos e, ao mesmo tempo, foi atrás da cadeira de rodas, um exagero, eu sei, mas devia ser uma forma de encarar a situação. Não vi essas coisas, só senti sua presença, pronta pra garantir felicidade em qualquer circunstância.

Bom, essas foram minhas experiências. Pelo menos as boas. Quando coloquei brinco, nos meados dos anos 80, minha mãe defendeu a pena de morte e foi meu pai que me defendeu. Ficou um sentimento de gratidão e ao mesmo tempo de admiração, sobretudo quando olho daqui pra trás. Quando vejo as mães de filhos homossexuais na Parada do Orgulho LGBT ou quando vejo mães de filhos com deficiência, mesmo quando não possuem deficiência ou não são homossexuais, acho incrível essa solidariedade. Chamam de natural, instinto materno ou outras bobagens. O que há mesmo é uma escolha.

Outro dia, para um amigo que estava passando uma situação difícil, eu o fiz lembrar que não estava sozinho e que contava com sua família. Ele deu entender que contava com eles porque eram da família. Eu, que conheço a família, bem sei que não tem nada a ver com laços genéticos. Eles compartilhavam uma escolha e não um sangue correndo nas veias. Era a escolha por serem próximos, amigos, parceiros, corresponsáveis e solidários.

Uma mãe companheira ou distante, não deixa de ser mãe, um título que recebe com a maternidade. Mãe é mãe. Mas essa mãe que escolhe estar junto, tem que ser ainda mais valorizada. Minhas homenagens a todas as mães, mas minhas homenagens especiais às mães que escolhem conviver, acolher e promover a diversidade. Elas são uma referência que muitos querem reduzir ao instinto materno, como se não fizessem nada mais do que a obrigação, mas são um sinal para toda a humanidade de que outro mundo é possível. E que maravilha quando este mundo novo começa dentro de casa.

Não estou dizendo que essas mães são exemplo de resignação ou de aceitação das desgraças que acontecem na vida. Pelo contrário, essas mães vão à luta pelo direito à diferença. Como sempre gosto de lembrar, cada um de nós é único, uma das possibilidades que a vida encontrou dentro das muitas composições possíveis. Elas entendem que a diversidade não é uma desgraça, um desvio da vida, mas a vida acontecendo e se expressando com a sua pluralidade. Não é de um amor incondicional que estou falando, também muito lindo, nada contra, mas é de um entendimento, em algum momento, de que é bacana conviver com alguém que não é como você, muito menos como você gostaria ou esperaria que fosse. E pais sabem, como sabem, esperar coisas dos filhos, que sejam assim ou assado, a cara deles ou dos sonhos deles. Por isso há escolha, nada natural, nada genético, grudado na condição de mãe.

Ah, se você é adotado e fica enraivecido pela ausência de vínculos genéticos, saiba que a melhor coisa do mundo é ser adotado, escolhido, seja pela mãe biológica ou não. Feliz dia das mães e boas escolhas!

p.s. Se você bateu no seu filho porque ele é canhoto, não precisa ficar envergonhada, basta pedir sinceras desculpas e fazer diferente, reinventar a relação. Sempre é tempo.

sexta-feira, 6 de maio de 2011

Supremo Tribunal Federal reconhece união homoafetiva

Supremo reconhece união homoafetiva
da redação do site do STF

Os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), ao julgarem as Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) 4277 e da Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) 132, reconheceram a união estável para casais do mesmo sexo. As ações foram ajuizadas na Corte, respectivamente, pela Procuradoria-Geral da República e pelo governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral.


O julgamento começou na tarde de ontem (4), quando o relator das ações, ministro Ayres Britto, votou no sentido de dar interpretação conforme a Constituição Federal para excluir qualquer significado do artigo 1.723, do Código Civil, que impeça o reconhecimento da união entre pessoas do mesmo sexo como entidade familiar.

O ministro Ayres Britto argumentou que o artigo 3º, inciso IV, da CF veda qualquer discriminação em virtude de sexo, raça, cor e que, nesse sentido, ninguém pode ser diminuído ou discriminado em função de sua preferência sexual. “O sexo das pessoas, salvo disposição contrária, não se presta para desigualação jurídica”, observou o ministro, para concluir que qualquer depreciação da união estável homoafetiva colide, portanto, com o inciso IV do artigo 3º da CF.

Os ministros Luiz Fux, Ricardo Lewandowski, Joaquim Barbosa, Gilmar Mendes, Marco Aurélio, Celso de Mello e Cezar Peluso, bem como as ministras Cármen Lúcia Antunes Rocha e Ellen Gracie acompanharam o entendimento do ministro Ayres Britto, pela procedência das ações e com efeito vinculante, no sentido de dar interpretação conforme a Constituição Federal para excluir qualquer significado do artigo 1.723, do Código Civil, que impeça o reconhecimento da união entre pessoas do mesmo sexo como entidade familiar.

Na sessão de quarta-feira, antes do relator, falaram os autores das duas ações – o procurador-geral da República e o governador do Estado do Rio de Janeiro, por meio de seu representante –, o advogado-geral da União e advogados de diversas entidades, admitidas como amici curiae (amigos da Corte).

Ações

A ADI 4277 foi protocolada na Corte inicialmente como ADPF 178. A ação buscou a declaração de reconhecimento da união entre pessoas do mesmo sexo como entidade familiar. Pediu, também, que os mesmos direitos e deveres dos companheiros nas uniões estáveis fossem estendidos aos companheiros nas uniões entre pessoas do mesmo sexo.

Já na Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) 132, o governo do Estado do Rio de Janeiro (RJ) alegou que o não reconhecimento da união homoafetiva contraria preceitos fundamentais como igualdade, liberdade (da qual decorre a autonomia da vontade) e o princípio da dignidade da pessoa humana, todos da Constituição Federal. Com esse argumento, pediu que o STF aplicasse o regime jurídico das uniões estáveis, previsto no artigo 1.723 do Código Civil, às uniões homoafetivas de funcionários públicos civis do Rio de Janeiro.

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