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domingo, 9 de agosto de 2015

Valorização da diversidade e educação em organizações do século XXI



Valorização da diversidade e educação em organizações do século XXI


Reinaldo Bulgarelli

Txai Consultoria e Educação

23 de fevereiro de 2011



Um mundo com tantos desafios necessita de profissionais cada vez mais atentos às possibilidades que a conexão e a vida em rede possibilitam. É a colaboração em espaços virtuais ou presenciais que permite ampliar o conhecimento, criar e inovar na direção de um mundo mais sustentável.


A construção urgente de um mundo mais sustentável traz consigo o desafio de criarmos espaços criativos e inovadores para nossos negócios. A empresa não sobreviverá sem uma boa dose de ousadia em termos de inovação tecnológica e também cultural. Como estamos realizando ou vivenciando mudanças no nosso comportamento frente a esses desafios colocados por um mundo com 7 bilhões de pessoas e em evidente colapso? Como foi ser feliz nos anos 2000 e como serão nossos padrões de felicidade nos próximos anos?


Nem precisamos ir muito longe neste exercício porque é agora que precisamos encontrar soluções para que nossos produtos e serviços façam sentido para as pessoas, demonstrando compromisso com a vida e com sua felicidade. Quem irá encontrar essas soluções?


A melhor universidade do mundo não consegue sozinha formar uma pessoa para trabalhar na empresa que está na mira da agenda de sustentabilidade. A qualquer momento, seu produto e até mesmo sua existência podem ser questionados. Será mesmo que precisamos disso ou será mesmo que essa empresa fará falta?


De qual empresa estamos falando? De todas. A ideia de cadeia de valor e necessidade de realizar a atividade empresarial considerando muitos stakeholders ou públicos estratégicos envolve a todos numa rede de relações complexa e dinâmica, interdependente, orgânica, assim como é complexa e dinâmica a sociedade onde as empresas operaram. Nesta rede de relações há os olhos bem atentos de um consumidor que está mais rapidamente acolhendo o convite para repensar seus valores, sua maneira de consumir e de buscar felicidade.


Mais do que medir a velocidade desta mudança, é importante perceber uma tendência e reconhecer que a mudança é mais rápida do que a capacidade das empresas de dar conta dela. A produção de soluções tecnológicas que causem menos dano ao planeta e que acompanhem as mudanças de perspectiva, interesses, valores e de felicidade das pessoas que compram o que vendemos esbarra no conservadorismo de estruturas rígidas e processos que existem para congelar a empresa no tempo e não para fazer rodar pelas estradas de um mundo onde a mudança mudou, é intensa, profunda e ligeira. Até mesmo a definição da identidade da empresa parece mais um cativeiro, uma “identidade paralisante” do que um eixo em torno do qual os sujeitos da empresa podem ousar na interação com a realidade atual e futura.


Uma empresa hoje, mais que nunca, é feita de diferentes perspectivas unidas, articuladas e trabalhando juntas, não sem conflitos, tendo por base uma identidade organizacional sintonizada com o presente da humanidade e com seus anseios de uma vida melhor, digna, para todos em todos os lugares. Como encontrar a melhor forma de traduzir qualidade, preço e entrega em algo realmente sustentável para todos e não apenas para uma parte da cadeia de valor?


Diálogo, capacidade de incluir perspectivas variadas na tomada de decisões, de colaborar na diversidade de pensamentos, histórias de vida e de características humanas das mais variadas, parece ser uma resposta útil neste momento em que tendemos a acreditar mais e mais no individualismo ao invés de acreditarmos no indivíduo.


O que nos atrapalha? Gostamos de grifes nos diplomas, mais do que do conhecimento e de pessoas estudiosas. Gostamos de reunir times que falem muitas línguas, mesmo que nem sempre seja a língua do nosso tempo e lugar. Gostamos das aparências e dos seus significados, mais do que dos conteúdos, suas potencialidades e possibilidades. Gostar de aparências eleitas como normais, chiques, poderosas, confiáveis, nos leva a estereótipos, preconceitos e práticas de discriminação, quando precisamos é de abertura para enxergar o que está diante de nós. Gostamos de harmonia, mesmo que seja falsa, porque ela dá ideia de “ordem e progresso”, mesmo que transforme nossas empresas em um verdadeiro cemitério da criatividade humana.


Não é tarefa fácil encontrar meios de trabalhar juntos, colaborar e contribuir para o todo em estruturas rígidas, autoritárias, conservadoras, elitistas e avessas à diversidade. A diversidade que queremos muitas vezes passa por levíssimos e harmônicos tons de azul e não por um arco-íris cheio de cores contrastantes e conflituosas. Queremos uma diversidade que esteja sob o controle dos nossos processos, que não tenha nenhuma característica divergente do conjunto, da maioria, do padrão dominante. Queremos aprender na diversidade, mas desde que não nos custe conviver com mulheres, onde há apenas homens, com negros, onde há apenas brancos ou com pessoas com deficiência, onde há apenas pessoas sem deficiência. E por aí vai.


Não se trata de um vale-tudo, pois há a identidade organizacional com sua missão, visão e valores definidos. Mas, como foi dito, ela nem sempre é fonte de energia para nos transportar a novos lugares e parece mais uma âncora que nos prende ao passado.


Gestão como sinônimo de controle precisa ser conceito resignificado porque há muito mais asfixia do que criação de possibilidades para fazer e incrementar, inovar, criar e recriar constantemente num mundo que se cria e recria mais rapidamente ainda.


Quem será o convidado para o mundo sustentável que precisamos construir agora? Do sonho de quem ele será feito? Quem será ouvido? Quem participará de sua construção? Seremos inclusivos na hora do sufoco ou jamais seremos nada. Bom seria ser inclusivo sempre, mas se pelo menos neste momento pudéssemos alargar nossos horizontes, as soluções seriam de melhor qualidade. Diversidade e sustentabilidade andam juntas e uma é parte integrante da outra.


Não há sustentabilidade sem valorização da diversidade, o que significa gostar, ter apreço, considerar e reconhecer a diversidade que nos caracteriza a todos como fonte potencial de adição de riqueza a todos. Não há porque afirmarmos nossas características ou marcadores identitários se não for para cooperarmos melhor nessa construção da sustentabilidade que precisa ser coletiva e intensamente vivida no encontro, no diálogo, na abertura ao novo, ao diferente de si, do padrão dominante, do esperado e da rotina forjada por práticas controladoras e autoritárias. O inusitado, o inesperado e a surpresa dependem da pessoa para serem percebidos e transformados em algo interessante para si e para o todo.


No mundo do triple bottom line, que desconstrói a lógica do lucro por si só e para si mesmo, a diversidade é muitas vezes esquecidas. É como se ao falar de pessoas, planeta e lucro não estivéssemos falando também de cultura, de política e de economia, de filosofia e de visões de mundo que interagem para compor a realidade e os padrões de felicidade. Há quem traduza lucro (profit) por economia no modelo criado por John Elkington em seu livro “Canibais de Garfo e Faca”, de 1999. Economia não envolve pessoas e o planeta? Não envolve aspectos culturais e políticos? Onde há pessoas, há cultura. A dimensão cultural é parte da essência da humanidade nesta eterna construção de nós mesmos e das maneiras de vivermos juntos no planeta e até fora dele. A diversidade humana está na essência de uma gestão sustentável que trabalha para o desenvolvimento sustentável.


Porque esquecemos este pequeno detalhe? Porque tudo em volta conspira para isso com anos e anos de desprezo pelo que não é liso, homogêneo, regular, normal... E ser normal é caber nas medidas do Homem Vitruviano, de Leonardo da Vince. Tudo que não é homem, com medidas simétricas, branco e adulto, foge da norma de perfeição comprada por nossa mente como atributo de beleza, confiabilidade, harmonia, paz, sucesso e felicidade.


A diversidade que queremos tem vida, não é insípida, inodora, incolor, invisível, intátil, insonora, insopesável, imperceptível, sem nada que atrapalhe a paz do Homem Vitruviano. A diversidade que queremos é inclusiva porque se identifica com a pluralidade humana que nos caracteriza a todos e assim deveria estar presente em nossas organizações, espaços onde reunimos gente e não “mão de obra”.


Diversidade é uma palavrinha relegada ao campo da cultura e pouco utilizada nas discussões sobre sustentabilidade. No entanto, sem a dimensão cultural, não há triple bottom line que sobreviva.


*Revisto em 09 de agosto de 2015.

terça-feira, 23 de junho de 2015

Bilhetinho às crianças e adolescentes, filhos de nazistas, sobre gênero e diversidade na educação

Bilhetinho às crianças e adolescentes, filhos de nazistas, sobre gênero e diversidade na educação

Reinaldo Bulgarelli
23 de junho de 2015

Se você é de uma família criacionista, por exemplo, encontrará na escola a versão científica desta história. Estamos falando da escola pública e não uma escola confessional, mas isso vale para todas.
Cabe à sua família dizer no que crê e à escola dizer o que sabemos, nós humanos, sobre nós mesmos. E tudo com base na ciência. Não deveria haver conflito, apenas o direito ao acesso à informação, sobretudo à informação com base na ciência, sobretudo na escola pública, mas isso vale para todas. Conhecer é (ou deveria ser) algo muito prazeroso.
O país tem uma Constituição (conheça, vale a pena!), e tem uma LDB e um PNE. Tem, ou deveria ter, gente séria cuidando para que a escola fosse um lugar que cuidasse da sua formação e não um lugar de pregação nazista (com o dinheiro público!). As alianças políticas às vezes descambam para lugares horríveis e esquecem até de cuidar da escola, da educação e agem como se pudessem lotear também o futuro que nem terão (a vida é curta!).
O mesmo vale para o conhecimento sobre questões de gênero, diversidade humana e outros temas que você precisa conhecer, até para poder tomar suas decisões, realizar suas escolhas, produzir algo sobre tudo isso, quem sabe? O que não está no campo das escolhas, ou não deveria estar, é o respeito às pessoas.
Você deverá saber que amar as pessoas está no campo das escolhas, mas respeitar não está. Se a religião dos seus pais diz para amar todas as pessoas, muito bem, mas na sociedade o texto que rege nossas vidas é escrito por gente e ele nos diz para respeitar todas as pessoas.
Tem um texto muito legal que você precisa conhecer (e que seus pais odeiam). Ele diz que “todas as pessoas nascem livres e iguais em dignidade e direitos”. Não é um texto sagrado, mas elaborado por gente, sim, gente como eu e você, para enfrentar gente como seus pais que querem aniquilar os que são diferentes deles.
Sua família, minha criança e meu jovem, pode estar tirando de você o acesso a uma informação que vai lhe fazer falta na vida. Pior, está impondo a você uma formação nazista na qual o desrespeito e a violência contra "os pecadores", “os diferentes deles”, os "destruidores da pátria e da família”, são uma exigência para você ser reconhecido como "uma pessoa de bem". Lá no céu da sua religião, você vai ter que prestar contas do amor, mas aqui você deve (ou deveria) prestar contas do respeito.
Presta atenção: a vida não é assim como querem seus pais nazistas e, se for, será uma vida muito pobre, cheia de sangue nas mãos, o que não é uma coisa boa para ninguém, inclusive para você. Não acredita? É porque seus pais não deixam você conhecer a história, ver o mundo para além da ideologia deles, das mentiras que inventam em nome da sua “boa formação moral”.
Esse nazismo com cara de religião (cada hora o nazismo tem uma cara, mas é tudo a mesma coisa) é vergonhoso e será cada vez mais poderoso quanto menos você aprender na escola, sobretudo na pública, mas não apenas.
Meu conselho é que você diga aos adultos que cuidam de você e que deveriam te ajudar a estar no mundo e com o mundo, que você tem direito a saber o que diz a ciência, tanto quanto eles têm direito a te dizer o que diz a religião deles.
O que eles não têm direito é de fazer pregação nazista na escola, muito menos na escola pública, mas não apenas.
Quem cuida (ou deveria cuidar) de manter e fortalecer o estado democrático de direito, há de se manifestar sobre as práticas nazistas de seus pais e desfazer o que estão fazendo no espaço público, mas não apenas. (Se fazem isso na vida pública, imagine o que não fazem na privada?!)
Uma escola não fica vazia apenas quando faltam alunos, mas quando lhe retiram o motivo para a qual foi criada.

sábado, 5 de janeiro de 2013

Inclusão da criança com deficiência na escola


Inclusão da criança com deficiência: a mediocridade reina?
Reinaldo Bulgarelli, 05 de janeiro de 2013

Quadro com frase de Osho: "A vida começa
onde termina o medo."
Percebi que uma rede de blogs que tratam dos direitos da pessoa com deficiência se articulou rapidamente para comentar mais um daqueles artigos horríveis da Lya Luft. O artigo está na Veja do final de 2012. Eu não costumo ler estes artigos e “mudo de canal” para não dar ibope a quem não diz coisa com coisa. Se pelo menos buscasse argumentos, informações, mas os artigos dela apenas destilam veneno contra tudo que não seja o pequeno mundinho “classe média”, como ela mesma diz ser.

O intuito aqui não é comentar o triste parágrafo, por exemplo, onde a Lya diz o seguinte: "Segundo, precisamos, sim, rever em toda parte nossos conceitos, leis e preconceitos quanto a doenças mentais. O politicamente correto agora é a inclusão geral, significando também que crianças com deficiência devem ser forçadas (na minha opinião) a frequentar escolas dos ditos 'normais' (também não gosto da palavra), muitas vezes não só perturbando a turma, mas afligindo a criança, que tem de se adaptar e agir para além de seus limites — dentro dos quais poderia se sentir bem, confortável, feliz."

Credo! É confusão demais para alguém que vive chamando os brasileiros de medíocres (“a mediocridade reina, assustadora, implacável e persistente”, em 26 de setembro de 2012, entre outros tantos “artigos”). Mediocridade é querer escrever sobre algo que não conhece, usar sua projeção de maneira irresponsável para destilar seus conceitos medievais como se a caretice nacional nascesse do seu próprio umbigo. Não, dona Lya não vai estragar nosso dia e muito menos os caminhos que escolhemos trilhar. Seus textos medíocres ofendem, ferem a dignidade das pessoas, deixam rastros de ódio e não propõem nada, a não ser que se mantenham as coisas como estavam em mil novecentos e antigamente.

Acho melhor comentar o fato de que a inclusão da criança com deficiência na escola vai seguindo firme e forte. Converso com educadores e dirigentes de escolas públicas e privadas nos seus diferentes estágios de aplicação prática da ideia de inclusão e vejo que as coisas mudaram rapidamente nos últimos anos.

O que era apenas um conceito, hoje pode ser constatado em qualquer escola do bairro de qualquer canto do país. Não, ainda não chegamos lá e muitas coisas precisam melhorar, mas já temos muita coisa para mostrar, muitas histórias para contar e muitos resultados para avaliar.

Com esses educadores que estão trabalhando a inclusão, aprendi que eles superaram algumas posturas e práticas, como as ideias paralisantes, desqualificantes e desmobilizantes (perdoem os neologismos para garantir a rima!):
1. Ideias paralisantes - Elas negam direitos e usam discursos aparentemente críticos para manter as coisas como estão, bem longe das mudanças. Dizem o seguinte: “Enquanto toda a educação brasileira não melhorar, não há porque se falar em educação para a criança com deficiência”. E a criança, todas elas, não têm direito à educação? Tem que esperar tudo melhorar? Quem vai dar o sinal pra avisar que tudo melhorou? Tem cabimento?! Esse tipo de argumento não é o suprassumo do desprezo pelo ser humano? Você ficaria do lado de fora aguardando que alguém, um dia, melhore a escola, segundo os padrões de algum elitista de plantão, para você pisar no tapete vermelho? E enquanto isso, o que faremos?

2. Ideias desqualificantes – Elas acabam com os professores, as escolas e o país e dizem o seguinte: “Os professores são uns coitados, ganham mal, não sabem nem educar uma criança sem deficiência nas péssimas escolas que há neste país pobre e medíocre. A escola brasileira é muito ruim e esses professores desqualificados mal dão conta de suas tarefas básicas.” Os professores ganham mal, a escola brasileira não é a melhor do mundo, longe disso, mas essa moda de desqualificação está mesmo a serviço de quem? Não é o suprassumo do elitismo ficar desqualificando os pobres e quem trabalha com eles? A desqualificação tem ajudado em alguma coisa? Como alguém pode se sentir estimulado se falsos amigos defendem os professores dizendo que são coitadinhos, despreparados e incompetentes? É uma crítica que não quer ver melhoras, mas quer manter o mundinho no século passado.

3. Ideias desmobilizantes – Elas não gostam de participação e não acreditam que os sujeitos da educação poderão se envolver na busca de soluções. Dizem que são todos desqualificados: o povo e seus educadores. Portanto, como irão participar da solução? Apenas os sabidos da pátria, esse povo que nem se informa direito e já sai escrevendo artigos em revistas de grande circulação, é que poderão encontrar soluções interessantes. A vida é melhor do que suas ideias e toda escola que se dispôs a ser inclusiva está enfrentando desafios, evidentemente, mas está também encontrando soluções, construindo uma nova história da educação no país.

Na prática, no concreto, no dia a dia da vida como ela é, as escolas inclusivas entenderam que não estão fazendo mais do que a obrigação, que estão corrigindo uma injustiça gerada no passado e isso não vai ser fácil, mas tem que ser possível. E na coragem dos que não querem dormir no século passado, estão aprendendo a incluir na própria prática da inclusão, além de muito estudo, dedicação, busca por apoios dos mais variados. A inclusão é um processo, um movimento, uma busca movida a ideais muito melhores do que aqueles que movem o elitismo pátrio e nada patriótico.

O que mais escuto daqueles que avançaram para fase do fazer e não mais da conversa fiada é que a educação inclusiva melhora a escola toda, aprimora métodos, gera novas visões e práticas. Esses educadores confirmam o que disse o documento da UNESCO sobre educação inclusiva – “DECLARAÇÃO DE SALAMANCA SOBRE PRINCÍPIOS, POLÍTICA E PRÁTICAS NA ÁREA DAS NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS, 1994”.

Se você tem um filho ou filha com deficiência, não se assuste e muito menos se acovarde diante dessa rabugice de uma pessoa da idade média, elitista e preconceituosa. Participe ativamente do movimento por educação inclusiva e coloque todo seu conhecimento sobre seu filho e sua realidade a serviço da escola.

Não espere um mundo pronto, o mundo das coisas óbvias (é um direito e pronto!) porque estamos em fase de construção. Nesta fase, é preciso firmeza de princípios, mas é preciso também postura educativa, construtiva, parcerias para encorajar e não para congelar as mudanças.

Postura parceira, que cobra, que se indigna e tem as mais altas expectativas, caminha junto e quer soluções, não apenas constatar que o mundo é cruel para com a criança com deficiência. E não se esqueça de envolver sua criança. Ela também pode e deve participar desta construção. A tutela mais atrapalha e reforça falas de ódio à diversidade do que ajuda neste momento que estamos vivendo.

Se sua escola jamais pensou no assunto da inclusão de crianças e adolescentes com deficiência, tome coragem, assuma sua responsabilidade e atenda a uma demanda legítima da sociedade internacional, não apenas a brasileira. E pensar sobre isso pode passar pelas fases acima e que precisam ser superadas: a fase das ideias paralisantes (nada pode ser feito enquanto tudo não estiver perfeito), desqualificantes (não sabemos nada, não estamos preparados, as crianças não estão preparadas, o mundo é despreparado e horrível) e desmobilizantes (não vou pedir ajuda, não vou ouvir ninguém, não acredito que professores, alunos e seus pais possam contribuir de alguma forma).

Ouça, dialogue, converse sobre o assunto com outros educadores, conheça as experiências boas e ruins de outras escolas, disponha-se a mudar e a acreditar que é possível, além de ser um dever. Supere-se, vá além de seus limites porque quem está numa escola já faz isso cotidianamente e encontra nos desafios as condições para o desenvolvimento de todos.

Comece 2013 com algo novo para contar em 2014, até um dia em que as Lyas Lufts da vida serão lidas como se leem hoje os discursos dos nazistas, dos que defendem a eugenia, dos escravocratas, dos ditadores, dos elitistas e daqueles que só conhecem o ódio contra as diferenças. Vamos corar de vergonha pelos humanos que um dia fomos ao deixarmos crianças com deficiência do lado de fora da escola regular.

A história será outra e você ajudou a construir um novo momento, difícil, talvez, mas possível, desejável e muito melhor para todos. Não vá atrás dessa gente que odeia por odiar porque o ódio, como dizem os sábios, jamais construiu nada de bom. Tenha a coragem de viver!
1. O artigo da Lya Luft está reproduzido e comentado no site Lagarta Vira Pupa: Tenha estômago porque nem comentei um décimo das atrocidades ali apresentadas: http://lagartavirapupa.com.br/blog/tag/texto-lya-luft-veja-inclusao/

sábado, 18 de agosto de 2012

Educação Inclusiva

Reinaldo Bulgarelli,
23 de julho de 2012

Dia desses fui visitar uma escola de educação infantil aqui do bairro. Estava procurando escola para meu afilhado e começamos por uma particular. Minha preferência, para manter a coerência, será uma escola pública, mas a mãe do meu afilhado queria que eu conhecesse as opções que temos nas proximidades.
Fiquei encantado com a escola porque, sem saber, caí no paraíso da diversidade. Aquelas criancinhas todas ali brincando, se divertindo juntas e nem se dando conta de que estavam num lugar tão especial. Só mais adiante é que elas vão se dar conta disso. Acabaram de chegar ao mundo e não têm parâmetros para a comparação. Eu imagino lugares assim nos meus textos, nas minhas palestras, nos desenhos de programas que ajudo as organizações a fazer quando pensam em valorizar a diversidade.
A diretora da escola nos atendeu e foi mostrando tudo, permitindo nossa interação com as crianças, os professores, funcionários e com os pais. Eu não queria incomodar e atrapalhar a rotina, portanto, fiquei cheio de vontade de voltar a trabalhar com creche e pré-escola. Quase me matriculei na escola!
O que me encantou foi o apreço daquela escola pela diversidade. O espaço físico nem é tão bom assim, cheio de barreiras para a mobilidade de todos, mas tudo transpirava o gosto pela diversidade.
Havia educadores homens. É uma beleza ver homens não apenas em atividades administrativas. É evidente que fazem ação afirmativa para garantir uma equipe de educadores tão masculina quanto feminina. O mundo da educação, sobretudo a infantil, ainda atrai mais as mulheres. A escola, portanto, gerenciava a divulgação das vagas, as inscrições dos candidatos e a seleção da equipe. Devem considerar a diversidade de gênero como um critério para seleção que garante o sucesso da escola.
Se a escola apenas abrisse as portas sem gerenciar o processo de recrutamento e seleção, diria que não discrimina ninguém, que só apareceram mulheres. Como a escola gosta da diversidade e entende que ela constitui uma competência organizacional que faz bem para todos, não hesita em realizar ações afirmativas que garantam diversidade de gênero. Simples assim, mas algo raro de se ver ainda hoje.
Era uma escola particular, portanto, dentro do regime de segregação racial no qual vivemos, fiquei feliz ao ver tantas crianças negras. A diretora explicou que a escola não coloca barreiras para crianças negras. A fala dela dava a entender que outrora ou que em outros lugares a barreira exista. Mais que isso, ela disse que a escola busca a diversidade racial, além de diferentes classes sociais.
Disse, ainda, que a escola acabou sendo a preferida dos estrangeiros negros que estão no bairro, em geral médicos, executivos e profissionais liberais que moram ou trabalham nas proximidades. Não deixou de comentar que muitos acham que as crianças negras são pobres, talvez me incluindo entre essa multidão preconceituosa. Que nada! Algumas eram até ricas, disse a diretora, e que os pais gostavam da postura e do ambiente da escola. A diversidade racial era um fator de competitividade entre as escolas de educação infantil do meu bairro!
Eu logo perguntei sobre as atividades, querendo chegar às questões de gênero, mas sem revelar minhas verdadeiras intenções. Explicações disso e daquilo foram dadas até que perguntei se os meninos e meninas brincavam das mesmas coisas. Ela disse que era difícil quebrar os tabus. Os pais reclamam. As meninas fazem balé e tudo mais. Os meninos só fazem aulas de judô. Disse, contudo, que realizam oficinas sobre gênero para a equipe. Estão no caminho, mas não é incrível que essa barreira ainda permaneça na cabeça dos adultos?
As meninas não têm mais nenhuma ou quase nenhuma interdição e brincam de tudo, mas os meninos ainda são proibidos de brincar de boneca, casinha, enfim de tudo aquilo que precisarão para viver no século XXI. Esses meninos, mais que nunca, vão conviver com mulheres inseridas no mercado de trabalho e que esperam parceiros tão presentes nas atividades de casa como elas estão presentes nas atividades das organizações.
Vi também que havia crianças com deficiência, apesar da arquitetura nada adequada para todos, sobretudo para crianças pequenas. Torço para que saiam logo deste lugar e encontrem um espaço compatível com a proposta e com as posturas. As crianças com deficiência estavam nas turmas e não segregadas em “salas especiais”. Também não vi queixas de que as crianças com deficiência davam mais trabalho.
Há professores por aí que dizem que as crianças com deficiências devem aguardar do lado de fora enquanto eles se preparam. Há, ainda, os que dizem que é preciso um batalhão de professores auxiliares, talvez para manter a segregação dentro da sala de aula. Enquanto as professoras “normais” cuidam das crianças “normais”, o batalhão iria cuidar das “outras” crianças.
Perguntei sobre a aceitação dos pais das crianças sem deficiência. A diretora disse que a inclusão era um valor da escola e que os pais descontentes procuravam outras escolas, mas que não havia assim tanto problemas, até porque a escola já é conhecida no bairro. Era um valor, portanto, os incomodados que se mudem. A máxima de que “o cliente tem sempre razão” não encontra espaço numa organização que tem uma identidade sólida e seus valores inegociáveis. Gostei de ver e fiquei lembrando que há empresas que ainda ficam do lado do cliente, mesmo diante de práticas de discriminação contra seus funcionários.
Enfim, sai de lá encantado. Uma escola que valoriza a diversidade combate a discriminação e se organiza de maneira a promover a diversidade na maneira de ser e de realizar suas atividades. Isso é válido para toda e qualquer organização. Hoje uma aluna do curso de Sustentabilidade e Responsabilidade Social Corporativa que coordeno na FGV, a Anita, me enviou pelo Facebook uma matéria da FAPESP sobre este tema.
Vivenciar a experiência da educação inclusiva na pré-escola pode promover a abertura em relação ao diferente, dizia a autora da matéria, Karina Toledo. Estava baseada na pesquisa qualitativa com alunos entre 7 e 16 anos de idade egressos de uma determinada creche pública. A pesquisa foi realizada pelo Instituto de Psicologia da USP. Esses alunos interagiam melhor com colegas, tinham valores que facilitavam sua inserção no mundo atual e participavam promovendo soluções nas situações de conflito que envolviam preconceitos e discriminações.
“’A ideia era entrevistar esses alunos, agora no ensino fundamental e em escolas diferentes, para avaliar se a experiência da educação inclusiva pré-escolar teve impacto em suas atitudes e valores’, contou Marie Claire Sekkel, coordenadora da pesquisa que teve apoio da FAPESP.”
Hoje de manhã eu estava numa grande empresa exatamente conversando sobre como a valorização e promoção da diversidade na organização capacitava a todos para lidar com um mundo também diverso, ampliando os horizontes, formando gente criativa, inovadora, aberta a mudanças e à complexidade dos tempos atuais. Já não estão mais na educação infantil, mas a empresa também é lugar de desenvolvimento das pessoas para lidar com diferentes perspectivas.
E tem aquelas pessoas que dizem que é preciso acabar o mundo e começar de novo pela creche. Não estou dizendo isso aqui neste artigo e sou muito contrário a esta ideia, como já disse tantas vezes. A infância e a educação infantil – creche e pré-escola, são fundamentais para nossa formação, mas como qualquer outra fase da vida. Enquanto estamos vivos, estamos aprendendo. Até o último suspiro somos seres que dialogam com o mundo, inacabados, prontos para se transformar, aprender e realizar mudanças.
Há outros que dizem que de nada adianta porque a criancinha sai de uma escola assim bacana e cai num mundo perverso, logo esquecendo o que viveram. Mas a educação inclusiva não está apenas na dimensão do tempo. Está na dimensão do amor. Não há nada que o amor não possa curar ou que não possa perpetuar. Não é o tempo que cura nossas dores ou que nos salva dos espaços perversos. O tempo pode gerar esquecimento. O amor gera lembranças. Quando se vive de verdade, tudo que queremos é amor.
Educação inclusiva é gesto de amor. Não é vivência que permanece porque foi vivenciada na primeira ou na “última infância”, mas porque foi vivência significativa de acolhimento da vida como ela é. Sempre que se acolhe a vida em sua diversidade criadora, está se acolhendo o amor e nada fala mais alto do que uma experiência de amor.
* Publicado originalmente no Blog do Guilherme Bara - http://www.blogdoguilhermebara.com.br/educacao-inclusiva/

sexta-feira, 8 de abril de 2011

Homenagem ao professor Antonio Carlos Gomes da Costa

05/04/2011

Professor Antonio Carlos é homenageado

Evento em memória do pedagogo, que faleceu há um mês, relembrou suas contribuições na área social e emocionou os presentes

Do Portal Pró-Menino

O professor Antonio Carlos Gomes da Costa, falecido há um mês, recebeu uma homenagem carinhosa de amigos e organizações do terceiro setor na última segunda-feira (04/04) em São Paulo. O evento, organizado pelo Cenpec (Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária), Fundação Itaú Social e Txai Consultoria e Educação, relembrou as contribuições do professor e emocionou os presentes.

“Homenagear é uma forma de agradecer ao nosso mestre e, ao mesmo tempo, manter suas idéias atualizadas”, destacou o amigo Reinaldo Bulgarelli, da Txai Consultoria e Educação. “São muitos os temas em que o Antonio contribuiu. Desenvolvimento humano, direitos humanos, voluntariado, terceiro setor, direitos da criança e da juventude... Homenagear é rememorar essas muitas contribuições”, afirmou emocionado.

“É uma dor e, ao mesmo tempo, uma saudade muito grande. Mas ele falava que quando partisse do plano existencial, gostaria de continuar trabalhando. E a gente vê nesse grupo, nesses parceiros, pessoas influenciadas por ele que continuarão agindo”, destacou o irmão Alfredo Carlos Gomes da Costa. Ao lado da esposa de Antonio Carlos, Maria José Gomes da Costa, Alfredo e o sobrinho Mauro Roberto Ribeiro Pinto representaram a família do homenageado.

Maria Alice Setubal, presidente do Conselho de Administração do Cenpec, destacou que homenagens como essas devem existir sempre, para continuar reunindo pessoas influenciadas pelo pensamento e obra do pedagogo. “Aqui se falou de suas múltiplas contribuições. Para o Cenpec, por exemplo, ele foi um grande parceiro, que nos trouxe a importância de se pensar a escola”.

Estiveram presentes amigos como Antonio Jacinto Matias, da Fundação Itaú Social; Daniela Pavan, que representou Sergio Mindlin, da Fundação Telefônica; Fernando Rossetti, do Gife (Grupo de Institutos, Fundações e Empresas); Helio Mattar, do Instituto Akatu; Franscisco de Assis Azevedo da Camargo Corrêa; Evelyn Iorshpe, da Fundação Iorshpe, entre outros. Outros parceiros não puderam comparecer, mas enviaram suas homenagens, como a ABMP (Associação Brasileira de Magistrados, Promotores de Justiça e Defensores Públicos da Infância e da Juventude) e o advogado Edson Sêda.

Leia aqui o agradecimento de Maria José, esposa do professor
Leia também homenagem do amigo Sérgio Mindlin, diretor-presidente da Fundação Telefônica
Confira especial do Portal Pró-Menino em homenagem ao professor
Fonte: Publicado dia 05 de abril no Portal Pró-Menino - Fundação Telefônica -

quarta-feira, 12 de maio de 2010

Pagina22 - Brick in the wall

Foi publicada na Revista Página 22, uma matéria fruto do casamento entre o Centro de Estudos em Sustentabilidade da Escola de Administração de Empresas da Fundação Getulio Vargas e jornalistas independentes. Eu contribuí falando sobre educação, sustentabilidade e diversidade, claro! A matéria é de Amália Saflate, velha conhecida nas boas produções sobre sustentabilidade com visões amplas e avançadas do tema. Segue um trecho da matéria: (...) "Ele (Carlos Brandão, da UFMG) cita o físico norte-americano Thomas Kuhn, para quem foram a aproximação e a reorganização do conhecimento, e não o acúmulo dele, que levaram ao desenvolvimento da ciência, da cultura e da sociedade. Segundo Kuhn, essa aproximação e essa reorganização se devem menos às descobertas e invenções do que a um novo olhar depositado sobre as mesmas coisas e os mesmos conteúdos já existentes. Para Brandão, esse olhar que atravessa os conhecimentos, impulsionado por algo que está além e aquém das disciplinas, é um sintoma de transdisciplinaridade.


Um olhar diferente que, pela inovação que apresenta e o desafio que provoca, teria potencial de envolver e estimular os alunos.

Brick in the wall

Para começar, esse olhar disciplinar, voltado para a compreensão dos diversos níveis de realidade, se faz necessário para romper os muros que costumam separar as escolas do seu entorno, especialmente as particulares. “Será que as escolas estão em contato com a comunidade à sua volta? Se houvesse mais porosidade, a educação para a sustentabilidade aconteceria naturalmente, pois esta é, sobretudo, transversal”, diz Reinaldo Bulgarelli, especialista em temas da diversidade e professor da Eaesp na área de responsabilidade social corporativa. Ele compara muitas escolas particulares a shopping centers, que fazem o aluno esquecer o lado de fora e acabam por formar ambientes segregacionistas.

Ainda que políticas do governo busquem criar oportunidades de inclusão por meio do sistema de cotas e do Programa Universidade para Todos (ProUni), o ensino de qualidade no Brasil, como se sabe, é acessado principalmente pelas classes favorecidas, perpetuando a imobilidade social.

“Quem está discutindo sustentabilidade é uma elite, mas ser sustentável é ser inclusivo”, afirma. A seu ver, o desrespeito à diversidade ainda é tão grande na sociedade brasileira que chega a ser sentido em turmas mais homogêneas. Bulgarelli descreve as queixas das alunas em grupos de discussão dos quais participa. “Até as brancas e ricas sofrem discriminação. Elas dizem: ‘Eu estudo tanto quanto meu colega, mas no mercado de trabalho é ele que vai ser meu chefe. Se é assim, prefiro não lutar por um cargo de chefia, vou tentar equilibrar o trabalho com a satisfação na vida pessoal’.” Por isso, segundo Bulgarelli, tem uma turma imensa de mulheres montando o próprio negócio ou optando por uma vida fora do País.

Já nas escolas públicas o problema é a porosidade à violência. “Diria até que em alguns casos há conivência, pois não se interpõe um filtro, não se executa um projeto para trabalhar a questão”, diz. E descreve situações que parecem banais, mas podem marcar profundamente as crianças e causar ressentimento ou revolta. Em geral, os professores, que se colocam como detentores do conhecimento, são brancos, e os alunos, negros. Nas creches, as crianças brancas costumam ser penteadas pelas professoras brancas, que não têm o know-how de pentear o cabelo das crianças negras. Estas acabam penteadas pela merendeira, pela copeira, que estão abaixo na hierarquia de poder nas escolas. Assim, diz Bulgarelli, o momento de ser arrumado, de ser cuidado, do prazer desse contato físico e emocional, vem com uma carga de segregação.

Será um tipo sutil de violência, ainda que não intencional? Que efeitos isso pode ter nos corações e mentes dessas crianças e como isso vai afetar a sua formação na escola e na sociedade?

“A ciência não deu conta do sofrimento do homem”, diz Maria de Mello, do Ciret. O ensino, enquanto mero transmissor do conhecimento científico, não dará conta das demandas e das carências da humanidade.


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