Reinaldo Bulgarelli, sócio-diretor
da Txai Consultoria e Educação
08 de março de 2016
Algumas dicas que passo agora,
entre tantas outras, mas que podem fazer a diferença em sua empreitada.
1. Não diga que
há tarefas “naturalmente” de homens e outras de mulheres. Não há nenhuma
atividade no mercado de trabalho que possa ser realizada com base no sexo das
pessoas. É uma afirmação da Organização Internacional do Trabalho (OIT) em
convenções e tratados que enfrentam a discriminação e promovem igualdade, como
a Convenção 100 e 111, por exemplo.
2. Não diga que
não há mulheres numa determinada atividade porque ali é necessária a força
física. Primeiro, porque é preciso olhar se a atividade cotidiana exige mesmo
força física e se essa força está dentro dos parâmetros legais. Se está fora
dos parâmetros legais, de saúde e segurança, este é o problema e não as
mulheres. Segundo, porque há homens fracos e mulheres fortes. Quando ela é
necessária, portanto, coloque foco na força e não no sexo. A força não é um
atributo apenas masculino, mesmo que na média os homens tenham mais força do
que as mulheres. Você não vai criar uma maga para homens só com base na média.
Você contrata pessoas e não “médias”.
3. Não diga que
uma atividade é insalubre para as mulheres, que pode colocar a saúde dela em
risco. Se há problemas para a saúde das mulheres, há problemas para a saúde dos
homens, incluindo a saúde reprodutiva. Melhore o ambiente de trabalho para
todos e todas sem usar o risco para discriminar as mulheres. Sim, a gravidez é
das mulheres e o bebê pode ter problemas em certos ambientes, portanto, cuide
do ambiente, dos homens e mulheres que ali estão, sem usar o grave problema que
tem para discriminar as mulheres.
4. Não diga que
as mulheres são um problema para o sucesso da empresa porque elas engravidam.
Uma empresa que não incorpora nas práticas de gestão um fato da vida não é uma
empresa séria e não vai alcançar sucesso por não ser séria, competente, e não
por causa da gravidez das mulheres. Avalie, compare e descubra quem tira mais
licença e quem fica mais tempo de licença do trabalho. Se for os homens, como
tende a ser, não os descarte por que isso não é promover a igualdade entre
homens e mulheres.
5. Não diga que
a empresa tem foco no mérito e adora a meritocracia se a liderança não é capaz
de inibir e até punir gestores que, por exemplo, solicitam à área de recursos
humanos para contratar mocinhas mais bonitinhas. Portanto, acredite, não é
apenas a gravidez um problema para a gestão empresarial, mas também a aparência
das pessoas, sobretudo das mulheres. Elas são muito exigidas quanto a isso,
como se fosse uma competência essencial ter as unhas pintadas e com a cor
imposta pelo dress code da empresa.
6. Não diga que
é preciso matar os homens ou "aperfeiçoar" as mulheres quando há um problema na
cultura da empresa. Essa cultura é masculina, com grande número de homens
dentro dela, é também masculinizada nos rituais e masculinizante na opressão
que exerce sobre as mulheres e também sobre os homens para que todos sejam à imagem e
semelhança do homem idealizado pelo machismo. Empoderar as mulheres não é fim,
é meio para transformar a cultura organizacional e não para se ter mulheres
fortes, à imagem e semelhança dos homens. Empoderar os homens pode parecer
desnecessário, já que são 90% mais ou menos dos que mandam nas empresas, mas o
sentido aqui é tomar nas mãos a própria vida e não viver sob as “ordens” do
machismo.
7. Não diga que
a empresa promove igualdade entre homens e mulheres porque isso dá retorno
financeiro para os acionistas. É óbvio que dá, mas chegar a esse ponto é
aviltante para você, para todos os homens e mulheres de sua vida. Há coisas que
não devem ser feitas porque adicionam valor, dão lucro, mas porque devem ser
feitas e ponto. Promover a igualdade diante de um mundo no qual ela não está
dada e ainda precisa ser construída não é favor algum aos acionistas, apesar de
todos os benefícios que isso traz para todo mundo. É justo, é ético, é
princípio, é valor e não deveria estar subordinado à lógica do lucro, mesmo
quando ele é evidente.
8. Não diga que
as mulheres são o enfeite de sua empresa, as coisas belas que tornam o duro
mundo do trabalho mais lindo, que deseja força para elas como se não tivesse
nada a ver com o machismo que elas enfrentam. Não diga isso ou coisas parecidas com
isso, sobretudo no dia internacional da mulher, porque você vai passar vergonha
e nem vai poder reclamar. Pisou na bola mesmo e não tem o que fazer, a não ser
se desculpar e rumar o mais rapidamente possível para o século XXI. Pensa que é brincadeira? Já participei de evento onde o presidente disse tudo isso e mais um pouco...
9. Não diga que
está trabalhando pela igualdade entre homens e mulheres como se a “categoria”
mulher fosse homogênea, um mundo fechado em si mesmo. Há diversidade dentro
desse universo comum pinçado entre tantas outras características de uma pessoa. Há também
desigualdades dentro dessa diversidade que são transpassadas por questões como
raça/cor, idade, aparência, deficiência, orientação sexual, identidade de
gênero, religião, regionalidades, classe social e tantas outras. Quando estiver
trabalhando pela igualdade entre homens e mulheres, lembre-se das mulheres
negras, das mulheres trans, das mulheres lésbicas, das empregadas domésticas,
das mais velhas, das mais jovens, das mulheres do norte e nordeste, das
mulheres pobres... Só interessa a carreira da mulher rumo a cargos mais
elevados na empresa? É muito pouco. Há mais coisas a serem enfrentadas para garantir
que chegar lá seja o resultado de uma transformar maior do que apenas o tamanho
da sala que elas ocupam.
10. Não diga que
naturalmente as coisas vão se resolver, como se estivesse falando sobre a
temperatura do final de semana, que o verão vai chegar um dia e que poderá
chover ou fazer sol amanhã. Nem essas coisas existem sem a interferência humana, portanto,
desnaturalize o que está ao seu alcance fazer. É preciso ações afirmativas para
interferir nos rumos e ritmos da gestão empresarial. É preciso gestão e não contemplação
passiva diante das desigualdades porque elas estão exigindo ação, pressa e
qualidade nos meios ou métodos para se promover a igualdade como algo essencial
para o sucesso da organização, das pessoas, da sociedade.