sábado, 28 de maio de 2011

O kit contra a homofobia e a educação

O kit homofobia e a educação

por Reinaldo Bulgarelli, 15 de janeiro de 2011 (para Portal Guia do ABC)

Uma pesquisa divulgada em 2009 me chamou a atenção e venho considerando seus resultados no meu trabalho. A matéria, na Revista Nova Escola, da Editora Abril (http://revistaescola.abril.com.br/avulsas/225-emdia.shtml), dizia o seguinte:
Diversidade não é um tema bem-vindo entre alunos, pais, professores e diretores. Esse é um dos apontamentos do Estudo sobre Ações Discriminatórias no Âmbito Escolar, realizado no primeiro semestre de 2009 pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe), em convênio com o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep). Idade, etnia, orientação sexual e de local de origem, entre outras características, incomodam a maior parte do público analisado em 500 escolas públicas de todo o país (veja o gráfico à esquerda). Além de a abrangência da intolerância assustar, é preocupante encontrar as necessidades especiais como o principal alvo de repulsa, ainda mais com a crescente inclusão de alunos com algum tipo de deficiência nas escolas regulares. Nessa categoria, o índice geral de preconceito é de 96,5% e alcança 96,8% dos alunos e 87,4% dos docentes.”
A pesquisa mostra que 87,3% têm preconceitos contra homossexuais: “A distância em relação a pessoas homossexuais foi a que apresentou o maior valor para o índice percentual de distância social, com 72%, seguido da distância em relação a pessoas portadoras de deficiência mental (70,9%), ciganos (70,4%), portadores de deficiência física (61,8%), índios (61,6%), moradores da periferia e/ou de favelas (61,4%), pessoas pobres (60,8%), moradores e/ou trabalhadores de áreas rurais (56,4%) e negros (55%). Mais preocupante é o fato que o preconceito e a discriminação muitas vezes resultam em situações em que pessoas são humilhadas, agredidas ou acusadas injustamente simplesmente pelo fato de fazerem parte de algum grupo social específico. Nota-se que estas práticas discriminatórias no ambiente escolar tem como principais vítimas os alunos, especialmente negros, pobres e homossexuais, com médias de 19%, 18% e 17% respectivamente para o índice percentual de conhecimento de situações de bullying nas escolas entre os diversos públicos pesquisados.”

A escola tem alguma responsabilidade sobre essa realidade? É um espaço onde podemos aprender a conviver na diversidade que nos caracteriza a todos? Essas questões levam também à pergunta sobre onde o preconceito e a discriminação começam e onde eles terminam? Seria ótimo identificar um lugar e definir responsabilidades pontuais, mas a verdade é que estamos mergulhados numa cultura que alimenta preconceitos contra alguns de nós. É um circulo vicioso e precisa ser enfrentado por todos em todos os lugares. O que estamos combatendo e o que queremos?
Preconceito é uma ideia preconcebida sobre alguma coisa. Pode ser positivo ou negativo, mas é sempre algo ruim porque nos afasta de conhecer e até de conviver com outras pessoas e realidades. Se pudéssemos fazer uma divisão didática, o preconceito é um pensamento enquanto a discriminação é um ato. A pesquisa mostra como os preconceitos resultam em humilhações, agressões e acusações injustas, ou seja, em práticas de discriminação. Eles não ficam na cabeça e acabam determinando a maneira de agir. É possível educar as pessoas por meio de diálogos, informações, acesso a conhecimento para que tomem uma atitude e modifiquem sua postura preconceituosa, mas é impossível dizer que podemos erradicar o preconceito. Já a discriminação nós podemos dizer que queremos erradicar por meio de normas claras e punição a quem as pratica.

O kit contra a homofobia é uma das respostas pensadas para enfrentar o que mostrou a pesquisa em relação aos homossexuais. Ele pode contribuir no campo da educação de alunos, professores ou familiares. Ele é bom, bem feito, mal feito? Parece que alguns críticos não estão interessados na discussão sobre a qualidade do material, mas em defender que ele não exista porque a homossexualidade não deveria existir. Bom, aí não há discussão no campo democrático porque estas pessoas alimentam a violência contra homossexuais, vivenciada de diferentes maneiras, desde a negação de sua identidade até o assassinato ou extermínio.
Não é fácil viver num país democrático, mas alguém que defenda o extermínio do outro por ser diferente do que acredita ser o único padrão a ser respeitado, precisa encontrar limites. É a intolerância contra a tolerância, como falamos no primeiro artigo (Diversidades) sobre os limites e a importância da Declaração Universal dos Direitos Humanos. Tirando os excessos e radicalismos não democráticos e que atentam contra a Constituição e os direitos humanos, que bom que temos um material para ser discutido na sociedade sobre como iremos nos educar para conviver com a diversidade sexual.

Tem horas que a informação pode fazer a diferença sobre o nível de respeito que um segmento tem na sociedade. Neste caso, falar do tema orientação sexual, tirá-lo da invisibilidade e propor reflexão na sala de aula e fora dela pode ser um ótimo caminho para que os homossexuais sejam mais respeitados do que são hoje. E você, como tem se educado neste tema? Como está educando seus filhos? Eles serão aqueles que aparecem no noticiário policial por espancar ou assassinar homossexuais ou são aqueles que respeitam e trabalham para que todos sejam respeitados?

Site Portal Guia do ABC: http://www.portalguiaabc.com.br/category/diversidade-gls
Site IG: Unesco dá parecer favorável a material contra homofobia: http://ultimosegundo.ig.com.br/educacao/unesco+da+parecer+favoravel+a+material+contra+homofobia/n1238103119025.html