sexta-feira, 4 de junho de 2010

Atores e executivos homossexuais: sair ou não do armário?

A Parado do Orgulho LGBT 2010 será neste domingo e o assunto do momento é este mesmo: orgulho LGBT.

Em entrevista para Monica Bergamo, na Folha do dia 26 de maio, Silvio de Abreu apresentou suas ideias sobre atores, homens ou mulheres, que se assumem homossexuais:

"Um ator que se assumisse homossexual teria dificuldade?

Se o ator, digamos assim, vive de fazer tipo, não tem problema. Ele vai poder fazer o tio, o pai, o aleijado, o bobo. Mas se ele vai ser o sonho de amor das telespectadoras, ou a moça que vai ser o sonho de amor do telespectador e ela diz: "Eu sou lésbica", ninguém vai gostar. Ninguém mais vai sonhar com ela.

Mesmo um bom ator?

Se ficarem falando por trás, não tem importância. Se ele falar abertamente, vai prejudicar. Daí você vai me dizer: "O público gay vai gostar". Mas o público gay é 10%. A mulher é 40%, ou sei lá quanto, mais ou menos isso. Ator que fizer isso é bobo."

Segue abaixo um trecho da carta para Silvio de Abreu, enviada por Toni Rei, 46 anos, especialista em sexualidade humana, mestre de filosofia, doutorando em educação e presidente da Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais - ABGLT.

"Você sabia, Sílvio, que muitos gays famosos (atores, políticos, religiosos, jogadores...) acabam sendo mortos por se exporem, muitas vezes levando pessoas estranhas para suas casas às escondidas, por não poderem ser o que realmente são? Ficar no armário causa baixa autoestima e aumenta a vulnerabilidade. Muitos atores e personalidades de Hollywood e até da televisão e do cinema brasileiros morreram de aids como consequência disso. Ficar no armário não faz bem para ninguém.

O primeiro vereador gay assumido eleito, Harvey Milk, cuja história foi retratada o filme A Voz da Igualdade, disse: 'Se você não é livre para ser você mesmo na coisa mais linda da vida, que é a expressão do amor –, então a vida, em si mesma, perde seu sentido.' Será que ele era bobo, ou defeituoso?

Sílvio, o armário não é lugar para as pessoas. É escuro, alguns tem mofo e outros até traças. Não faz bem para a saúde mental.

Talvez seu raciocínio seja de que o ator não seja prejudicado. Sabia que esse raciocínio me incomoda, o raciocínio do 'vamos deixar tudo como está e não vamos tentar mudar'. Já pensou se não tivéssemos mudado a regra que pessoas negras não podiam se casar com pessoas brancas. Não faz tanto tempo que atores negros e atrizes negras só tinham papéis de motoristas ou domésticas, porque prevalecia o raciocínio de que se o(a) negro(a) fosse protagonista, a novela não teria sucesso."

É um tema que também está presente na vida de muitos profissionais, executivos ou executivas. Sair ou não do armário? É apenas "uma questão pessoal" ou algo da vida particular e ninguém tem nada a ver com isso? Concordo com Toni e acredito que os homossexuais assumidos, além de protegerem seus direitos, estão ajudando a educar a sociedade na convivência com a diversidade sexual.

Um dos valores mais presentes na identidade das empresas é integridade. Armários e integridade não combinam. Ser você mesmo é a melhor forma de ajudar o mundo a ser mais tolerante, incluindo você mesmo, que pode aprender muitas coisas novas na interação do que dentro de um armário mofado, como disse o Toni.

Aproveitando o clima da Parada em São Paulo, dia 06 de junho, vamos exercitar nossa cidadania a partir da "dor e alegria de ser o que é". Cobrar transparência do mundo é fácil. Duro é exercitar a transparência e arcar com as consequências, as possibilidades e os desafios de assumir-se íntegro no nosso tempo e lugar.

Foto: Toni Reis e David Harrad, no blog da Parada 2009 de Fortaleza - 10ª Parada da Diversidade Sexual de Fortaleza.