Cláudia Wonder, de quem comentei aqui no blog o documentário "Meu Amigo Cláudia", faleceu ontem. Entre tantas lembranças da artista, fico com nossas conversas sobre mercado de trabalho para travestis e transexuais.
Tinhamos na agenda, além do lançamento do filme no circuito comercial, a realização de um evento com empresas para falar de ações afirmativas que garantissem eliminação de barreiras, promoção de equidade e respeito a travestis e transexuais. O tema da identidade de gênero não chegou ainda nem perto da responsabilidade social empresarial, mas é preciso que alguém trabalhe nesta direção. Ela estava animada com essa possibilidade.
Cláudia foi uma artista e tanto. Nem preciso falar nisso porque ontem e hoje há muita gente rendendo homenagens para essa vida cheia de brilho, com muito sucesso e reconhecimentos. Ainda é pouco porque ela foi importante demais para a cena artística brasileira e muitas outras homenagens virão. Seu brilho veio para ficar. Emprestou seu talento para a causa LGBT e fez a diferença, sempre com ações práticas, preocupada com a militância e com o atendimento direto a travestis, a criação de alternativas para quem não quer ter um destino traçado pela sua identidade de gênero.
Nossa conversa parou no ponto em que levantaríamos nomes de várias e vários profissionais travestis e transexuais que trabalham em diversos ramos de atividade, incluindo profissionais liberais, secretárias, sociólogos, serviço público, bancos, varejo, enfim, não apenas na noite e no mundo artístico, palco onde ainda é preciso garantir também mais avanços e muito mais respeito. Convidaríamos essas pessoas para darem seu depoimento sobre o que realizaram e sua visão sobre o mercado de trabalho. Tudo isso para demonstrar que há uma oferta de profissionais trans no mercado e que as grandes empresas poderiam contribuir aos dar visibilidade ao tema, à causa, reconhecer o que já está presente no seu cotiano e ampliar muito, muito mais essas possibilidades.
Nosso diálogo terminou ontem, mas nosso sonho irá adiante, mesmo porque não estamos sozinhos e tudo que faz sentido prospera, mais cedo ou mais tarde, mas prospera, vai adiante com muito mais gente interessada em garantir a TODOS e TODAS um país justo.
Cláudia, minhas homenagens, meu compromisso de ver nossos sonhos irem adiante e meus agradecimentos por tudo que fez pela sociedade brasileira. Seu velório na Secretaria de Justiça do Estado de São Paulo demonstra esse reconhecimento de que você ajudou o Brasil a ser melhor do que era com tudo que fez e por tudo que foi.
Os jovens que hoje expressam sua identidade de variadas maneiras, saibam que muito do que foi conquistado se deve à Cláudia e que ela pode ser fonte de inspiração para todas as demais conquistas que ainda devemos buscar. Ainda não é fácil para uma mulher ou para um homem assumir uma identidade de gênero diferente da que a biologia lhe conferiu no nascimento, mas pessoas como a Cláudia fizeram história ao brilhar na cena artística sem nunca deixar de olhar por toda a sua comunidade e por um país sedento de democracia para TODOS. Sempre me lembro de pessoas como a Cláudia quando em minhas palestras eu repito a pergunta de outra Cláudia, a Werneck: Quem cabe no seu todos?
Enfim, um brilho que veio para ficar se a gente se lembrar dessa luz em tudo que somos e fazemos.
Veja uma das notícias que saiu na grande imprensa sobre Cláudia Wonder, nossa querida amiga Cláudia. G1 - Multiartista Claudia Wonder morre aos 55 anos, em São Paulo - notícias em Pop & Arte