Dia Internacional da Pessoa com Deficiência
Reinaldo Bulgarelli (postado em 06 de dezembro de 2010)
A ONU definiu o dia 03 de dezembro como o Dia Internacional da Pessoa com Deficiência, data que lembra ao mundo que todos precisamos trabalhar por uma sociedade mais inclusiva por meio de comportamentos mais inclusivos. A ONU estima que 10% da população mundial possua algum tipo de deficiência.
A diferença se transforma em motivo para desigualdades intoleráveis. Estima-se também que 20% dos pobres do mundo possuam algum tipo de deficiência. São pessoas que possuem algum tipo de deficiência porque são pobres ou são pobres porque possuem algum tipo de deficiência? É um círculo vicioso que uma sociedade inclusiva pode tornar em um círculo virtuoso com algum entendimento sobre a diversidade humana.
A imagem de 1490 do Homem Vitruviano, de Leonardo Da Vinci, ficou em nossa cabeça para definir um padrão de normalidade que não corresponde à diversidade humana. Não somos apenas aquele homem com suas medidas “perfeitas” a definir a forma de construir mundos, realidades, toda uma arquitetura que desconsidera a realidade e cria privilégios para alguns de nós. Chamo de “davincismo” as práticas de discriminação contra pessoas com deficiência porque na base dela está essa desconsideração da diversidade humana. Legislações inclusivas são tidas como geradoras de privilégios. Na verdade, estão corrigindo um passado de exclusão e construindo um futuro de consideração pela diversidade humana.
Privilégio é o que favorece quem se beneficia de uma situação injusta. Incluir não gera privilégios. Deve gerar justiça. Olhar por esse ângulo ajudaria muito no engajamento das pessoas sem deficiência para trabalharem cada vez mais por uma sociedade mais inclusiva no futuro, mas que assume sua responsabilidade em relação ao que herdamos das gerações passadas.
A Convenção da ONU de 2006 consagrou o termo “pessoa com deficiência” e estabeleceu diretrizes globais para essa revisão da postura e das práticas por parte dos cidadãos, dos governos, das empresas, das escolas, enfim, de toda a sociedade. A legislação de cotas para o mundo empresarial completou 19 anos e para o setor público completou 11 anos. Já temos aprendizado suficiente para acertar o passo com a história, mas dependemos ainda a fiscalização e do compromisso de todos para melhorar os indicadores atuais.
Na pesquisa do Instituto Ethos e IBOPE lançado no dia 11 de novembro deste ano, vemos que há apenas 1,5% de pessoas com deficiência nas 500 maiores empresas do Brasil em postos operacionais e 1,3% nos posições de liderança (executivos). Dado mais completo do Ministério do Trabalho e Emprego, por meio do Relatório Anual de Informações Sociais (RAIS) demonstra que está diminuindo o número de pessoas com deficiência contratadas pela lei de cotas. Em 2007 eram 348 mil e em 2009 eram 288 mil. Um número que já era baixo diante da oferta de profissionais e que se tornou ainda mais baixo, mesmo com o crescimento do emprego no país.
O comunicado da ONU no link abaixo traz a ideia de que a inclusão é uma forma de combater a pobreza, ou seja, uma base da pirâmide socioeconômica construída artificialmente na medida em que são desconsideradas as condições das pessoas de ingressarem no mercado de trabalho. É uma base da pirâmide que tem por sustentação o preconceito, a discriminação, as barreiras de todo tipo para manter as coisas como estão. Olhando por outro ângulo, o do valor da diversidade, esses números tão pequenos demonstram que as empresas estão perdendo ao não considerar pessoas com deficiência.
Ao desconstruir barreiras, têm acesso a talentos, trazem a vida como ela é para a realidade das suas relações com a diversidade de públicos ou stakeholders. Pessoas com deficiência trazem consigo conceitos como desenho universal, acessibilidade, flexibilidade e inclusão, todos ricos em aprendizados para melhorar a qualidade dessas relações, produtos, serviços, atendimento e comunicação. As pessoas com deficiência são também clientes e cada empresa que cumpre a cota está ampliando o mercado interno com bases mais justas e efetivas. Artificial é a base da pirâmide que tem por base a discriminação e não a legislação inclusiva, como alguns alegam.
A empresa inclusiva enriquece suas perspectivas, entende e atende melhor as demandas de seus clientes atuais e futuros, contribui para uma sociedade mais justa e, com isso, contribui para a ampliação do mercado interno, o que faz toda a diferença em tempos de fartura e ou de restrição econômica.
Você comemorou ou não o dia 03? Há muitos motivos para comemorar porque é evidente que há uma mudança de paradigma em curso na sociedade e isso se deve aos esforços do movimento social, das lideranças, das organizações governamentais e não governamentais que promovem direitos humanos de pessoas com deficiência.
Há profissionais com e sem deficiência nas empresas que não se subordinam passivamente à mesmice e, com muito carinho e compromisso para com o sucesso dos negócios, assumem uma postura crítica que ajuda na construção do círculo virtuoso que beneficia a todos. Há muito para se fazer, mas a sociedade hoje está navegando em novas bases muito mais democráticas e inclusivas do que há dez atrás. 2011 está chegando e nele teremos outros dia 03 de dezembro para continuarmos desconstruindo a imagem do Homem Vitruviano em nossa mente e construindo imagens mais plurais da diversidade humana. A vida como ela é, bela e rica em diversidade, tem muito mais a nos oferecer do que um padrão dominante, solitário, autoritariamente definindo nossos caminhos.
Rádio ONU: Apoio a pessoas com deficiência ajuda a combater pobreza