sábado, 8 de fevereiro de 2014

Respeito e ambiente de trabalho sustentável


Respeito e ambiente de trabalho sustentável

Reinaldo Bulgarelli
08 de fevereiro de 2014

Ao longo destes anos todos em que me dedico à consultoria, um dos temas que trabalho é o do respeito. As empresas multinacionais, por exemplo, me convidam para adaptar programas desenvolvidos na matriz para a formação da liderança. Lá vou eu para a sala de aula falar sobre respeito, inclusão, enfim, cuidado com a qualidade das relações.

Também me convidam para elaborar políticas de respeito às pessoas e para construir sistemas internos que lidem com reclamações dos profissionais ou outros públicos, até mesmo clientes, visando resolver da melhor maneira, com justiça, seriedade, aquilo que pode estar sendo “jogado para baixo do tapete”.

O Instituto Ethos realizou em 2013 um importante evento com o tema “Mecanismos de Reclamação e Diálogo”. Veja o link para o boletim do Ethos no qual o presidente escreveu sobre o evento: http://www3.ethos.org.br/cedoc/direitos-humanos-e-mecanismos-de-reclamacao-e-dialogo-qual-o-papel-das-empresas/#.UvaUEbuPL3h . E o link para o vídeo no Youtube com um trecho do evento no qual atuei como mediador: https://www.youtube.com/watch?v=5hobsVpDOtg .

Em geral, já encontro a demanda com uma abordagem positiva do tema, tratando da questão do respeito como forma de promover o trabalho decente, de ser proativo em práticas de promoção dos direitos humanos. Eu me identifico com essa abordagem que diz a que veio e não apenas o que rejeita. Queremos promover direitos humanos, trabalho decente, relações de qualidade e, portanto, relações sustentáveis para um mundo sustentável.

As abordagens com viés negativo, que tratam do que não se quer, em geral não ajudam a mobilizar as pessoas para este horizonte positivo que todos enxerguem como resultado do esforço coletivo no presente. Se as pessoas enxergam os benefícios, constroem imagens sobre o ambiente de respeito, ele passa a fazer mais sentido, ganha significado e, assim, se torna valor. Valor é o que pesa na hora de tomar decisões, de realizar escolhas, portanto, respeito passa a ser uma forma de se conduzir nos relacionamentos com todas as pessoas, em todas as circunstâncias, sem nada que justifique a prática do desrespeito.

Essas abordagens fixadas no que não se quer são aquelas que produzem workshops ou cartilhas para falar de assédios, discriminação, abuso de poder, desrespeito, grosserias, como evitar riscos e assim por diante. É uma questão de estratégia, de visão de mundo ou maneira de encarar processos educativos essa de colocar o que não se quer subordinado ao que se quer, o que se pode ter de ganhos com isso e ganhar as pessoas por aquilo que elas acreditam ser bom para elas, não apenas para “os outros” ou para a organização.

Trabalhar com o tema do respeito é uma das coisas que mais me traz prazer e também aprendizados. Além de lidar com planos no plano macro, vamos dizer assim, gosto das possibilidades que o tema me traz para conhecer melhor nossa condição humana, as coisas incríveis que somos capazes de fazer e as coisas mais absurdas que, contando, ninguém acreditaria.

Tudo é humano e as organizações que lidam como a vida como ela é sabem disso, querem colocar o assunto na mesa, gerar aprendizados com o que aconteceu de errado e enfrentar as esquisitices de todos (esquisitos somos todos, como me disse uma amiga em referência ao meu livro “Diversos Somos Todos”).

Essas organizações percebem que é preciso ter uma visão generosa das pessoas, investir não apenas na punição, mas na reinvenção das relações após um incidente. Se for muito grave, a porta da rua é a serventia da casa, como dizem alguns, mas sempre com dignidade e profundo respeito até mesmo por quem pisou na bola de maneira irrecuperável para a organização. Respeitar é não divulgar fatos, nomes, motivos, fazer fofoca e até a vítima do desrespeito deve ser coerente com sua dor e promover no mundo o que lhe foi negado.

Mas, 99% das reclamações tratam de questões que podem e devem ser resolvidas rapidamente, com justiça e com reafirmação do respeito, sempre. É muito difícil tudo isso numa sociedade que privilegia o desrespeito como forma de exercício do poder, de ostentar cargos ou supostas superioridades de gênero, raça, classe social e assim por diante.

Também é complexo falar de respeito como forma de ser e de se conduzir no mundo quando algo acontece porque muita gente “quer ver sangue”. A ideia de restaurar, reinventar, seguir adiante com novas bases com combinações parece estranha diante de um mundo que gosta da exclusão. Excluir da vida é mais fácil e prático, reciclar dá trabalho. Assim como acontece com o lixo, não existe essa história de jogar fora porque estamos no mundo, ele é redondo, a gente se encontra de um jeito ou de outro.

Gosto de aprender com as empresas que me chamam para lidar com o tema do respeito. Promover respeito parece tão óbvio e nem deveria ser necessário explicitar motivações. Mas vejo que essas empresas acreditam basicamente em duas coisas: excelência e confiança. Elas entendem que é preciso oferecer resultados de qualidade pautados pela excelência em tudo que fazer, em suas entregas e, portanto, no trabalho de cada profissional da organização. Também entendem que relação de qualidade no ambiente interno é expressão do que buscam com os clientes, o que o que depende totalmente da confiança.

Um bom profissional é avaliado pela excelência de seu trabalho e pela relação de confiança que ele estabelece com as pessoas. Pode ter excelência o trabalho de um profissional que não se pauta pelo respeito? Ao desprezar uma pessoa, está desprezando um mundo, outras perspectivas e possibilidades, empobrecendo sua própria contribuição e sua capacidade de evolução.

Pode ser confiável um profissional que não cuida da qualidade de suas relações? Ao não ter respeito por todas as pessoas e em todas as circunstâncias, não é mais confiável, compromete as relações e a qualidade do seu trabalho. A principal virtude de um bom profissional é o respeito porque não há excelência sem confiança, assim como não há confiança sem excelência. Investir em relações de qualidade entre as pessoas de todos os públicos ou stakeholders de uma organização, é um princípio e uma prática que adiciona valor a todos.