sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

São Paulo faz 460 anos. Feliz aniversário!


E a minha São Paulo amanhecerá aniversariando. 460 anos! Este casarão na esquina da minha casa já não existe mais. Construíram um prédio imenso na esquina. Imenso, feio e caro, mas é assim que a cidade vai juntando gente, apartando gente, criando modas, acolhendo sonhos.
 
Duvido que haja uma cidade no Brasil que reúna tanta gente de diferentes lugares que para cá vieram carregando seus sonhos. Talvez por isso somos tão individualistas com nossos sonhos nos bolsos, prontos para brigar com quem os ameace. Talvez por isso, ao mesmo tempo, somos tão criativos, terra de artistas do concreto, seja nos palcos ou num escritório qualquer da avenida Paulista.
 
A rua Augusta era assim, quando eu nasci em 1961. Decerto eu subi essa ladeira para ir da maternidade para casa, na esquina da rua 25 de março com a Carlos de Souza Nazaré. Hoje moro na Augusta, de onde vejo umbigos tatuados, essa mistura de sonhos individualistas e criativos, esperando um motivo qualquer para sair em passeata, para fazer voluntariado, para cuidar do lixo, para se organizar nos prédios e na rua e nos bairros e no repensar a cidade. Bom seria que amanhã, no aniversário, todos pensassem juntos como melhorar a vida e a vida na cidade, o umbigo e a tatuagem, reunindo tudo numa reinvenção permanente para darmos conta desses imensos desafios.
 
Outro dia morreu um menino de 16 anos aqui perto. Dizem que foi suicídio, mas tantos outros foram mortos por gente intolerante que não dá pra acreditar nas autoridades policiais. Outro dia nasceu uma menina aqui perto. Anônima, ela é a mais famosa em seu círculo familiar e de amigos. O que ela será daqui a trinta, quarenta anos? Como estará nossa cidade? O que teremos feito de nossas vidas e de nossa cidade?

Reinaldo Bulgarelli, 24 de janeiro de 2014