quarta-feira, 27 de julho de 2011

Decálogo da Diversidade - Reinaldo Bulgarelli


Reinaldo Bulgarelli, lançamento do Diversos Somos Todos, 2008
10 IDEIAS SOBRE VALORIZAÇÃO DA DIVERSIDADE
Reinaldo Bulgarelli, julho de 2011
Para facilitar a compreensão sobre um conceito tão complexo, criei dez afirmações ou ideias que expressam meu entendimento sobre valorização da diversidade, sua importância e seu sentido. 
1.     A diversidade é uma característica essencial da vida e, portanto, fonte de riqueza.
2.     A diversidade pode ser entendida como o conjunto de diferenças e semelhanças que nos caracterizam.
3.     Diversos somos todos e não apenas alguns de nós, estejamos ou não em situação de privilégio em função de algum marcador identitário.
4.     Valorizar é considerar a diversidade na maneira de ser, de fazer e de se relacionar.
5.     As pessoas têm valor com suas características ou marcadores identitários e não apesar deles, sejam eles quais forem.
6.     Nossas relações e as soluções para os desafios da vida podem se empobrecer quando nos conectamos apenas pelas semelhanças e ignoramos, negamos ou sumimos com as diferenças.
7.     Ser indiferente às diferenças não ajuda a melhorarmos como comunidade humana.
8.     Respeitar não é fingir que a diferença não existe, mas é considerar a diversidade como se apresenta para podermos lidar com os possíveis conflitos e inovações que as relações humanas proporcionam.
9.     Inclusão efetiva é a que se estabelece em via de mão dupla, no diálogo, no enfrentamento dos conflitos e não na indiferença, negação ou supressão deles.
10.  Valorizamos a diversidade porque é a coisa certa a ser feita e, ao promove-la, oferece as condições para nos aproximarmos mais, cooperarmos mais e encontrarmos juntos melhores soluções para os desafios da vida.

quinta-feira, 7 de julho de 2011

O crescimento e o desenvolvimento

Crescer é uma coisa, desenvolver é outra bem diferente. Estamos crescendo, mas os dados com recortes de raça/cor, gênero, deficiência e o inexistente recorte por orientação sexual, demonstram um país careta, atrasado, com preconceitos atrapalhando os negócios, a felicidade das pessoas e, portanto, o desenvolvimento sustentável. Onde chegaremos se nem todos estão indo junto? Reinaldo Bulgarelli

 
Enviado por Míriam Leitão e Alvaro Gribel - 05.07.2011
|15h00m
COLUNA NO GLOBO
Números que contam

Quando se quer ter uma dimensão da crise espanhola, costuma-se usar o número do desemprego: 20%. Quando se quer mostrar que o Brasil está muito bem, um dos dados exibidos é a menor taxa de desemprego da série iniciada em 2002. Em maio, ela foi de 6,4%. Naquele mesmo mês, para uma jovem de 18 a 24 anos, negra, a taxa brasileira ficou em 20%.

O mercado de trabalho brasileiro está num bom momento, sem dúvida. Há maior formalização, maior oferta de oportunidades, a renda está em alta e os empresários estão reclamando que falta gente para contratar. Mas, como tenho sempre registrado aqui, ele não é igual para todo mundo. Ainda que esteja ficando melhor para todos, as distâncias permanecem marcantes.

Veja os dois gráficos abaixo preparados com dados fornecidos pelo IBGE na Pesquisa Mensal de Emprego (PME) de maio. Um homem branco tem taxa de país com pleno emprego, 4,2%; mas uma mulher negra (preta e parda na classificação do IBGE) tem taxa pior do que os Estados Unidos, 9,5%. Se a pessoa, de qualquer cor ou sexo, for jovem, entre 18 e 24 anos, o número chega a 13,5%. Se for jovem, mulher e negra, aí é que a taxa chega a ser espanhola, 20%.

Um leitor mandou e-mail considerando como possível explicação para o desemprego alto de mulheres negras e jovens o “absenteísmo causado pela licença-maternidade”. Na verdade, até para os homens a taxa nesta faixa etária é alta. É alta para todos dessa idade, mas é incrivelmente elevada para jovens negras.

O mercado de trabalho brasileiro está todo cheio de coisas estranhas como mostram as taxas de desemprego por faixa de instrução. Elas são menores para quem tem pouca ou tem muita instrução; o perigo é ficar no meio. Com até um ano de estudo, a taxa é de 3,2%; até três anos, 3,3%. Com ensino universitário é de 5%. Mas com oito a dez anos de estudo é de 7,9%. Para mulher negra $faixa de escolaridade é de 13,2%.

Entre pessoas com baixa escolaridade, as diferenças também estão presentes. Se for homem branco, de um ano a três anos de estudo, o desemprego é 1,9%; se for mulher branca, é 5,5%; se for mulher negra, é 6,7%. Se tiver de oito a dez anos de escolaridade, os homens brancos têm 5,8% de desemprego; as mulheres brancas, 9%; as mulheres negras (pretas e pardas), 11,1%.

O mercado de trabalho prefere homens brancos e que já tenham concluído o período de treinamento. Quem não concluiu o ensino médio, quem está procurando o primeiro emprego, mulheres, principalmente as negras, amargam número de país em crise, mesmo no nosso melhor momento.

Alguns números não querem dizer o que parecem, precisam ser explicados; mas os da taxa desagregada de desemprego querem dizer exatamente o que dizem: o mercado de trabalho no Brasil, mesmo num momento em que tantos empresários se queixam de falta de gente, se dá ao luxo de preferir e preterir. O mercado prefere homens brancos, deixa em segundo plano mulheres, tenta evitar os muito jovens e cria ainda mais barreiras para mulheres negras. Pode-se explicar o fenômeno com qualquer contorcionismo, mas seria preferível ver o que os números contam. Eles contam que o mercado de trabalho no Brasil discrimina. E este seria o melhor momento para superar essas barreiras, afinal, as empresas se queixam de “apagão de mão de obra”. É a melhor hora para a inclusão.

sexta-feira, 1 de julho de 2011

Sustentabilidade, liderança e diversidade

Atendendo a pedidos, segue aqui artigo publicado no site da Ideia Sustentável (http://www.ideiasustentavel.com.br/lideres/artigos/liderancas-e-diversidade/ ) que não está no ar momentaneamente.

Ao lado, foto do livro "Conversas com Líderes Sustentáveis", de Ricardo Voltolini


Lideranças e diversidade

Reinaldo Bulgarelli, junho de 2011.
Sustentabilidade é um tema que possui uma agenda em construção. Tem horas que essa agenda pende muito para o lado ambiental. Eu teimo em puxar também para o lado cultural e coloco o tema da valorização da diversidade na mesa. Faço isso faz tempo. Na ECO 92, por exemplo, eu lá estava coordenando um dos fóruns paralelos que tratava de desenvolvimento social. Nos documentos da ONU, como este de 1992, a questão da diversidade está sempre acompanhando a questão da sustentabilidade.

Teimo e gosto de teimar porque entendo que não há sustentabilidade sem valorização da diversidade. Entendo que a tal sustentabilidade que estamos discutindo, praticando e construindo mora na qualidade das relações. É um cuidar da qualidade das relações da pessoa consigo, com os outros, com o todo. É o cuidado da organização com a qualidade das relações com seus stakeholders.

Um dos elementos dessa relação de qualidade é a valorização da diversidade, o gosto pela vida diversa como ela é, o respeito por tudo e por todos. Tudo que tem vida tem diversidade. Organizações que gostam da vida, gostam da diversidade e vice-versa. Organizações que rejeitam a diversidade parecem se organizar em torno da negação da vida ou das fantasias de que estão desconectadas do tempo e lugar onde produze e recebem impactos positivos e negativos. Organizações que não gostam da vida parecem possuir um cabide para se pendurar lá fora a individualidade de cada um. Entra apenas a “mão de obra” e não a pessoa. Neste caso, a diversidade é oprimida, negada, rejeitada porque a vida não é bem-vinda. Taylor vive!

Neste momento da história da vida humana no planeta, nunca foi tão necessário sermos inclusivos. Pessoas inclusivas em organizações inclusivas estão mais preparadas para lidar e contribuir na construção de soluções para os desafios atuais e futuros. Uma pessoa, por melhor que seja sua formação, não dará conta sozinha de encontrar as respostas para estes desafios. Precisamos uns dos outros, do diálogo, da cooperação, da construção colaborativa para dar conta deste mundo em acelerado e profundo processo de transformação. A mudança mudou, como dizem alguns. Está evidente que práticas elitistas e que discriminam não podem ajudar neste momento em que precisamos ouvir muitas vozes para tomar boas decisões.

Minha experiência com os líderes empresariais neste tema tem sido muito rica. Aqueles que se interessam pela valorização da diversidade na gestão empresarial são gente, gostam de gente e dão importância a ambientes inclusivos, respeitosos, plurais e verdadeiramente comprometidos com a erradicação de práticas de discriminação. Eles dão exemplo de que na empresa não pode haver um cabide para deixar a vida do lado de fora. Utilizam fatos da sua vida, sua características, sua história, para falar de aspectos importantes da gestão, da maneira de conduzir os negócios e os relacionamentos com todos.

Há algumas situações que me revelaram a dificuldade de alguns presidentes em lidar com o tema da diversidade e, assim, com os temas da vida. Algumas situações me fizeram perceber a diferença entre estar na presidência e ser uma liderança. Vou compartilhar essas situações porque podem inspirar alguma reflexão.

Certa vez, um presidente me convidou para participar do evento anual da empresa. Ele falaria sobre o tema para toda a sua equipe de gestores e queria que minha apresentação provasse que diversidade adicionava valor aos negócios. Queria números, pesquisas e evidências irrefutáveis. Eu entendi seu apelo, mas a intuição me vez devolver o pedido para que ele dissesse por que acreditava na diversidade. Foi um depoimento marcante sobre suas experiências em equipes plurais e que ele acabou dividindo com todos no evento. Diversidade era um valor para ele, assim como era para a empresa. Evidente que diversidade faz bem para os negócios, mas gostei de ver o líder maior da empresa compartilhando sua experiência e sua crença no valor da diversidade. Por que é preciso justificar com números e atrelar a dinheiro o que faz parte da vida e da qualidade das relações? Se não der lucro, podemos pisar no valor da vida e da diversidade?

Outro presidente se viu numa situação difícil. Um colaborador foi demitido pelo gestor numa situação de evidente discriminação. A empresa foi colocada em risco e o discurso deste presidente de que a diversidade era um valor para ele e para a organização estava sendo testada. Fui consultado e, como outros colaboradores da empresa, defendemos que a demissão fosse revertida. Ganhou a turma que defendia a irreversibilidade de uma demissão para “não passar por cima da autoridade de um gestor”. Se a autoridade é usada para discriminar, pouco importava. Foi um erro que custou a credibilidade do líder e a empresa levou anos para reconquistar a confiança da equipe trabalhava no tema. Diversidade não pode ser uma declaração de intenção, mas uma prática cotidiana que transforma presidentes em líderes para todos os seus colaboradores e não para alguns deles. Confiança é algo que se constrói no caminho que transforma quem tem poder em um líder autêntico.

Houve um presidente que também queria trocar ideias comigo sobre diversidade e sua importância para os negócios da empresa. Como aprendi com aquele primeiro presidente que citei, fui fazendo perguntas para que ele fizesse o vínculo com sua própria história de vida. Era uma pessoa muito especial e esse vínculo foi imediato, servindo de base para seu diálogo dentro e fora da empresa, seja para tratar da questão da mulher, dos negros, homossexuais, pessoas com deficiência, entre muitas questões nas quais essa empresa avançou e bastante. Aprendi com ele que um líder pode representar na aparência o padrão dominante e ter a sensibilidade, o compromisso e a coragem de expressar suas crenças, experiências e sentimentos para dialogar com todos, enfrentar a discriminação e construir um ambiente inclusivo. Todos podem e devem valorizar a diversidade.

O presidente de um grupo também quis minha assessoria para implantar o programa de valorização da diversidade, formando um comitê com os presidentes e diretores de recursos humanos. Ele mesmo me alertou que o seu time era muito resistente à diversidade e discutimos a estratégia para lidar com isso. No entanto, a resistência persistiu, apesar das situações envolvendo perdas imensas de recursos com processos por discriminação e assédios. O presidente se aposentou logo no início dos trabalhos e um membro da família proprietária do grupo assumiu a direção, também se envolvendo no programa. Os dois não tiveram coragem de enfrentar as resistências do seu time e era evidente que isso expressava uma gestão descomprometida com os valores e estratégias da organização. Um dos presidentes, por esta razão, foi demitido muito tempo depois, deixando muitos estragos no caminho. Aprendi que ter poder nem sempre é sinal de liderança se não há coragem para enfrentar os subordinados naqueles aspectos que contrariam a identidade organizacional, sua visão, missão, valores e princípios. A valorização da diversidade era uma ótima oportunidade para esse alinhamento, mas preferiram conviver com as resistências e seus estragos.

Houve um presidente que me deixou até assustado com sua sinceridade. Ele me convidou porque percebia que a empresa estava presente no mundo, mas o mundo não estava presente na empresa, com um time de líderes que era muito parecido em muitos aspectos: todos eram homens, brasileiros, da mesma região do país e formados em engenharia. Nunca tinha visto tanta humildade, um dos requisitos fundamentais dos líderes, creio eu, sobretudo frente aos desafios que a sustentabilidade nos apresenta. O resultado veio ao longo de alguns anos e a liderança deste presidente foi fundamental para uma renovação gradativa da empresa em termos de maior diversidade entre seus colaboradores e gestores. Hoje, quando almoço na empresa, vejo pessoas de diferentes lugares do mundo e o clima expressa o gosto pela diversidade e pela interação entre todos.

Tem uma empresa na qual eu era responsável por um workshop sobre ambiente inclusivo e respeitoso. Na fala da empresa, respeito era um dos valores. Assim,, era essencial e critério para promoções. Foi preciso conviver alguns anos para perceber que o discurso acontecia na prática. A empresa prefere líderes alinhados com seus valores a promover aqueles com histórico de reclamação por trato desrespeitoso. Todos dão resultados, senão não seriam cogitados para a promoção, mas a escolha é por aqueles que dão resultado respeitando as pessoas. O presidente e seus superiores praticam o que defendem e o que está no discurso da empresa. O ambiente inclusivo e respeito que há nesta empresa, valorizando a diversidade e a interação criativa e inovadora entre as pessoas, fala mais alto do que qualquer discurso. Aprendi com eles que valorizar a diversidade é uma escolha. É possível ganhar dinheiro sem respeito às pessoas, mas eles escolheram ganhar dinheiro respeitando a todos.

O caminho da sustentabilidade é uma escolha realizada pelos líderes. Muitos, aliás, se tornam líderes ao realizar essa escolha de integrar a sustentabilidade na maneira de ser. Podemos ameaçar de morte com dados catastróficos ou demonstrar que estrategicamente a sustentabilidade faz todo sentido, amplia os lucros e garante sucesso. É verdade e é bom convencer demonstrando vantagens reais e tangíveis, mas a construção da sustentabilidade é ética ou não é sustentabilidade. Antes de ser uma estratégia, é um valor, está na identidade, na maneira de ser, de definir o que é felicidade e sucesso. Ser ético desde que dê lucro não é ético. Tem que dar resultado com ética e não ter ética apesar do resultado ou ter resultado apenas da ética.

Relações de qualidade não são construídas com oportunismos, com gente interesseira e a depender do lucro ou dos bons momentos. E quando as coisas vão mal, pode tudo? Ou é um modo de ser e de viver, de se relacionar e de fazer as coisas ou desmorona na primeira crise, barreira ou polêmica. A qualidade das relações passa pelo respeito incondicional pela vida.

Esses líderes da sustentabilidade que temos no nosso país e no mundo fizeram escolhas e inspiram todos à sua volta a realizar escolhas na direção da vida. Não colocam em questão se é para buscar ou não o sucesso da organização porque isto está dado. Querem ter sucesso na vida e com a vida. Portanto, acabam reinventando o sentido do sucesso de forma a tecê-lo na rede de relações interdependentes em que todos nós estamos inseridos, na qual e da qual vivemos.

O que os líderes me afirmam quando perguntados sobre o porquê da diversidade é que ela melhora a qualidade das decisões. Já imaginou não ter a diversidade como meio e fim para a realização de boas escolhas? Com diversidade, as relações são de qualidade e só podem gerar boas escolhas. Gandhi disse que não “não há um caminho para a paz, a paz é o caminho.” O mesmo se pode dizer da sustentabilidade. A sustentabilidade é o caminho, está no jeito de ser, de enfrentar os desafios, de construir o futuro de maneira inclusiva e respeitosa para com todos, promovendo interações que ampliem os horizontes e as possibilidades por ouvir muitas vozes e considerar muitas perspectivas. A sustentabilidade é de todos e para todos ou não é sustentabilidade. É a mesmice disfarçada de futuro. Líderes são fundamentais para enfrentar a mesmice e explorar, com visão positiva, as muitas oportunidades que a vida oferece. 

*Reinaldo Bulgarelli é sócio-diretor da Txai Consultoria e Educação.

Plataforma Líderança Sustentável - Sustentabilidade, Liderança e Diversidade

Liderança é diversidade

No dia 02 de junho foi lançado o livro "Conversas com Líderes Sustentáveis", de Ricardo Voltolini, Editora Senac-SP. É um livro muito importante para o movimento de sustentabilidade e responsabilidade social empresarial. No mesmo dia foi lançado, com os dez presidentes abordados no livro, o Projeto Liderança Sustentável 2011, pela consultoria Ideia Sustentável. Essa plataforma pretende realizar encontros com líderes para tratar de sustentabilidade e responsabilidade social empresarial.

De acordo com Ricardo Voltolini, a Plataforma visa "identificar, inspirar e conectar jovens líderes de todo o País, oferecendo-lhes a possibilidade de trocar experiências, receber informação relevante, conhecer as histórias dos líderes de sustentabilidade mais importantes do Brasil e começar a escrever as suas próprias. Esses encontros serão registrados para posterior disseminação. Haverá ainda um portal específico, ligado ao Portal Ideia Sustentável, no qual os líderes poderão acessar estudos e pesquisas importantes sobre o tema, encontrar pares e registrar seus individual cases”.

Atendendo a convite do parceiro Ricardo, escrevi no site da Plataforma sobre liderança, sustentabilidade e diversidade. Conto algumas experiências com lideranças de empresas interagindo com o tema da sustentabilidade para pensar em ética e valores que podem ser importantes para quem quer fazer a diferença no mundo dos negócios.

http://www.ideiasustentavel.com.br/lideres/artigos/liderancas-e-diversidade/