sábado, 30 de abril de 2016

Experiência é mesmo importante na hora de contratar alguém?

Experiência é mesmo importante na hora de contratar alguém?

Reinaldo Bulgarelli, sócio-diretor da Txai Consultoria e Educação
30 de abril de 2016

Na minha idade e com 38 anos trabalhando com temas relacionados a desenvolvimento, direitos humanos, gestão, gente, tenderia a me valorizar e dizer que experiência é tudo. Mas, não é. Focar em experiência e não em potencial é um erro gigante.

É um erro em si e também um erro que atrapalha a realização das mudanças na demografia atual do ambiente empresarial. Ela é majoritariamente branca, masculina e sem deficiência, entre outras características. Como mudar se o que é valorizado é exatamente o que fará esse cenário se perpetuar?

Experiência é importante, mas tem que ser relativizada e o valor do potencial deve estar mais presente. Risco? O risco está na homogeneidade. O trabalho em equipe permite compor times onde a inexperiência e a experiência podem ser dosadas no tamanho da missão da área e dos desafios que enfrenta.

Inexperiência soa como incompetência e não é. Inexperiência também não é atributo apenas dos jovens. Depende da pessoa estar assumindo algo novo em sua vida e isso pode acontecer com 20 ou com 60 anos. Também se confunde inexperiência com imaturidade. Nem todo experiente é maduro e nem todo inexperiente é imaturo.

Quer outra confusão? Experiência com excelência. Excelência pode estar ligada à experiência, mas nem sempre e nem com todas as pessoas. A primeira vez de alguém numa tarefa pode surpreender. Também não é bom colar automaticamente na experiência atributos como honestidade, ética, bom relacionamento. São coisas independentes que podem estar ou não relacionadas com experiência.

Experiência também não tem a ver com inovação. A inovação pode vir ou não da experiência. Os mais jovens e os mais velhos de idade sofrem com isso. Tem gente que diz que os mais velhos de idade são incapazes de inovar e tem gente que diz que só os mais jovens são capazes disso, o que joga nas costas deles uma responsabilidade injusta. Idade, experiência e inovação são três coisas diferentes.

Olha quanta coisa para atrapalhar o caminho da transformação! Sempre digo que não se faz uma empresa só com astronautas da NASA. São profissionais muito qualificados de uma organização incrível, mas só com um time de astronautas não se chega na Lua. É preciso muita gente para chegar lá, com uma pluralidade de competências e perfis que interagem e cooperam para isso.

Além disso, um time de astronautas pode entender de muitas coisas, mas não entende de tudo. O mais inexperiente de um grupo pode enxergar coisas que outros não enxergam. O melhor mesmo para uma organização é a diversidade porque ali até a inexperiência pode fazer a diferença na hora de construir uma solução, achar uma saída, propor melhorias ou novos caminhos.

Não é porque a pessoa inexperiente seja melhor, mas porque é diferente do padrão imposto e porque é a gestão da diversidade que irá promover a colaboração, o trabalho em equipe, a interação para que seja efetivamente excelente, criativa, inovadora, pronta para entregar os resultados esperados e até superar expectativas.


Há gestores que olham para a equipe e consideram a diversidade ali presente, incluindo a questão da experiência, tempo de vivência num determinado trabalho ou atividade. Com base nesse olhar é que decidem a importância que o quesito experiência irá ter na próxima contratação, entre tantas outras questões a serem consideradas. 

Colocar a experiência como uma exigência eterna, automática, para todas as vagas, todos os postos, todas as situações, pode levar as empresas à mesmice e ao fracasso. Abaixo a confusão com o conceito de experiência e viva a diversidade!