Organizações MMM: masculinas, masculinizadas e masculinizantes
Reinaldo Bulgarelli, 27 de fevereiro de 2012
Lidando com a
realidade atual, ainda temos um número superior de homens em todos os níveis no
mercado de trabalho. Segundo a pesquisa do Instituto Ethos e IBOPE “Perfil
Social, Racial e de Gênero das 500 Maiores Empresas do Brasil”, de 2010,
tínhamos 33% de mulheres no quadro funcional, 27% na supervisão, 22% na
gerência e 14% no quadro executivo. Temos, portanto, organizações masculinas.
Imagem: fila de homens executivos com um sendo pinçado por uma mão gigante |
As organizações
masculinas, por sua vez, estabelecem e cristalizam um jeito de trabalhar,
falar, se vestir, mandar, obedecer, sentir, analisar, planejar e olhar a
realidade que são também masculinas. Os rituais da empresa são masculinizados e
tendemos a dar valor a quem pensa, sente, é e age como homem. As organizações
são masculinizadas no seu jeito de pensar, sentir, ser e agir.
Organizações
masculinas e masculinizadas exercem um poder de coerção imenso sobre todos para
que a masculinidade esteja presente o tempo todo. Mesmo quem não é masculino ou
masculinizado, tem que se transformar para ser aceito, tolerado e para sobreviver
na organização. As organizações são, desta forma, masculinizantes.
Organizações MMM
são estressantes até mesmo para os homens. Tanta testosterona faz mal para a
saúde de todos, dos negócios e da sociedade. O triste desta história, além do
óbvio, é que os homens não estão se preparando para viver a transição. Em breve
teremos organizações tão masculinas quanto femininas. Tomara que seja também no
jeito de pensar, sentir, ser e agir. De todo jeito, quanto mais mulheres chegam
ao mercado de trabalho, mais transformações acontecem em suas vidas, em suas
famílias, na sociedade e sua maneira de pensar, sentir, ser e agir.
Valorizar a
diversidade é atuar de forma planejada para transformar as nossas organizações,
neste caso, em espaços tão masculinos quanto femininos para dar conta de uma
realidade que está, aliás, se tornando mais e mais feminina. Hoje, segundo o
IBGE, as mulheres já são maioria na sociedade brasileira. O poder do machismo
sobre homens e mulheres não se dilui com a mudança demográfica, mas tende a
passar por transformações. É fundamental enfrentar esse machismo para que as
organizações deixem de ser também masculinizadas e masculinizantes.
As mulheres estão
percebendo mais as mudanças porque a chamada minoria observa cada gesto dos
poderosos para poder sobreviver, resistir, vencê-los ou até imitá-los, na pior
das hipóteses. Eles, por sua vez, olham para o horizonte dos que estão por cima
e podem se iludir na impressão de que nada há para ser modificado em seu
status. Organizações que valorizam a diversidade pensam nisso tudo e em como
criar espaços de diálogo para que todos passem pelas transformações como
sujeitos ativos desta história e não como expectadores ou até mesmo atropelados
por ela. Falar no assunto é uma forma de perceber as mudanças e tudo que ela
implica no jeito de pensar, sentir, ser e agir.
Você, homem ou
mulher, tem pensado sobre isso? Sua vida, seus amores, seu trabalho, os
negócios de sua organização, a sua sociedade, as relações, enfim, tudo está
passando por uma transição que afeta diretamente a sua existência. Um mundo FFF
será tão chato como este mundo MMM que construímos. Valorizar a diversidade
implica construirmos juntos, homens e mulheres, uma sociedade MF onde a
complementaridade nos leve rapidamente e com maior qualidade para um mundo mais
sustentável. Alguém tem dúvida de que o mundo sustentável não será MMM?
*Publicado originalmente no Blog do Guilherme Bara, em 27 de fevereiro de 2012